Com a grande procura por material do Nirvana graças ao sucesso de Nevermind, e com seu sucessor ainda longe de ser finalizado, a Geffen resolveu, em dezembro de 1992, lançar Incesticide, uma coletânea dos primeiros trabalhos da banda, contendo covers e faixas que tinham saído apenas em compacto. Bem diferente da sonoridade de Nevermind, neste álbum vemos um lado mais punk e cru da banda, principalmente em músicas como “Hairspray Queen” e “Beeswax”, ambas com um vocal meio “bêbado” de Kurt. Do lado das covers, temos duas do Vaselines, “Molly’s Lips” e “Son Of A Gun”, com uma sonoridade curta e direta, e a versão de “Turnaround”, do Devo. Outras faixas legais são “Dive”, “Stain”, uma versão new wave de “Polly” (que aparece em Nevermind quase acústica), “Aero Zeppelin” e “Aneurysm”, um pouquinho diferente da que aparece no lado b do single de “Smells Like Teen Spirit”. Discão! E foi o primeiro álbum (ainda o velho vinil) do gênero que comprei, em fevereiro de 93, ainda embasbacado com o show da banda no Hollywood Rock, quando tive minha epifania rock ‘n’ roll. Fique agora com o texto extraído da Bizz, escrito por Renato Yada, que parece não ser muito fã de Nevermind.
NIRVANA – INCESTICIDE
(Sub Pop/BMG-Ariola)
(Sub Pop/BMG-Ariola)
Quem se iniciou no culto à camisa de flanela com o meio capenga Nevermind e não conhece Bleach, vai achar uma droga este Incesticide, coletânea dos primeiros trabalhos do Nirvana: é que o disco não contém nenhuma baladinha manjada para a MTV.
Incesticide traz os momentos de maior inspiração do grupo, com registros do começo de sua carreira, na época que idolatravam os Melvins, a banda primogênita do tal “som de Seattle” com seus riffs instigantes, lentos, paquidermemente pesados e enegrecidos por uma influência do Black Sabbath que Kurt e seus amigos absorveram muito bem. Os ensinamentos dos Melvins foram responsáveis pelos melhores momentos desse álbum de figurinhas raras, onde você pode ver as mãos miraculosas de produtor Jack Endino em ação, o mesmo que os Titãs estão contratando para pegar a rebarba da moda, com pelo menos cinco anos de atraso.
Ao contrário dos nossos esforçados brasucas, o Nirvana não precisou que Jack Endino desse uma de rei Midas, transformando merda em ouro. O ouro já estava lá, como em “Mexican Seafood” (originalmente lançada num split single), “Sliver”, uma canção alegrinha-nervosa, e “Downer”, que na versão original – presente no disco Bleach – teve as baquetas a cargo de Dale Crover, o baterista dos Melvins.
A sessão de covers e tributos conta com a dupla homenagem aos anos 70 em “Aero Zeppelin”, aos anos 80 na versão de “Turnaround” do Devo, e duas do grupo The Vaselines (“Molly’s Lips” e “Son Of A Gun”), antiga banda do escocês Eugene Kelly, líder do Eugenius (ex-Captain America).
Incesticide também é uma boa oportunidade de passar a limpo todas as formações do Nirvana, desde a época em que eram um quarteto até a substituição de Chad Channing, o baterista que foi despedido por ouvir Black Flag enquanto o resto da banda queria escutar “Love Hurts”, com o Nazareth.
Arquive esse exemplar de raro profissionalismo despretensioso em sua discoteca e dê uma banana para “a nova moda grunge”, para o Matt Dillon e paras as mãozinhas estúpidas e isqueiros acesos nas músicas mais lentas durante a passagem do grupo pelo Brasil, no início deste ano.
Seja esperto e não ligue para a massificação equivocada promovida pela imprensa.
RENATO YADA
Um comentário:
..."o meio capenga Nevermind". Pff! Não é o máximo quando o crítico tenta mostrar o quanto é cool, menosprezando o clássico megafodão que caiu no gosto popular e celebrando um balaio de lados B do qual ninguém se lembra?
Postar um comentário