quinta-feira, fevereiro 24, 2011

ADELE - 21

(texto extraído da Billboard Brasil 16, de fevereiro de 2011; autoria de Rodrigo Ortega)


Duas partes do corpo da inglesa Adele seguram seu segundo álbum, 21: o cotovelo e a garganta. As dores no primeiro são o tema do álbum. O fim do namoro deve ter sido épico, tamanha a tristeza exposta. Sua voz está ainda melhor que na estreia, 19. As faixas se dividem em dois grupos, correspondentes às reações femininas ao abandono. O primeiro é de raiva, de músicas fortes como o single “Rolling in the Deep” e “Fire in the Rain”. O segundo é de melancolia, da balada soul “One and Only” e outras que esbarram em country (“Don’t You Remember”) e gospel (“Take it All”). 21 teve produção do veterano Rick Rubin (Metallica, Johnny Cash, Beastie Boys) e do jovem Paul Epworth (Kate Nash, Cee Lo Green), com resultado sofisticado e acessível – chegou ao top 10 inglês com vendas maiores que os outros nove colocados somados. A única música alegre é uma releitura: “Lovesong”, do Cure, tem cara de memória feliz no contexto barra-pesada. Na última faixa vem a fase final de um rompimento: a aceitação. Na bela “Someone Like You”, Adele canta: “Tudo bem, eu encontro outro como você”. Se for para gravar um 23 tão triste e belo quanto 19 e 21, tomara que ela não encontre.

terça-feira, fevereiro 22, 2011

DISCOTECA BÁSICA: PIXIES - DOOLITTLE (1989)

(texto extraído da BIZZ 143, de junho de 1997; autoria de Pedro Só)


"A primeira vez que ouvi, imediatamente me senti muito próximo da banda. ‘Smells Like Teen Spirit’ surgiu quando eu tentava desesperadamente compor uma canção no estilo dos Pixies." Kurt Cobain

A confissão de Kurt Cobain bate com o depoimento de outro monstro sagrado. David Bowie: "Fiquei puto quando escutei Nevermind pela primeira vez. A dinâmica das músicas era totalmente roubada dos Pixies!" Essa genial brincadeira não é invenção do cantor e guitarrista Charles Michael Kitteridge Thompson IV. Indubitavelmente, porém, foi o quarteto que ele fundou em Boston, há onze anos, que a elevou ao status de arte pop. Filho de pentecostais, Charles - ou Black Francis, como assinava na época - era um gordinho esquisito que amava Hüsker Dü (outra influência decisiva do Nirvana), ficção científica e a língua espanhola (fez intercâmbio em Porto Rico). Quando se juntou ao guitarrista Joey Santiago (filipino de nascimento), à baixista Kim Deal e ao baterista David Lovering para formar o Pixies, finalmente conseguiu botar pra fora a confusão reprimida que insistia em gargalhar além de seu subconsciente.

Há quem prefira Surfer Rosa, primeiro álbum do grupo, que ajudou a criar o mito do produtor Steve Albini. Mas o segundo, Doolittle, de 1989, tem apelo irresistível. Contrariando o esnobismo underground do selo inglês 4AD, com quem tinham contrato, os Pixies trabalharam com som limpo, estruturas simples, senso melódico apurado (Elton John elogiou) e refrões fortes.

Popular e doentio, quando saiu, Doolittle foi interpretado pelo Melody Maker como um disco que tematizava a inutilidade da linguagem e a repulsa ao corpo. Parece pretensioso, mas faz sentido. E, igualmente importante, é divertidíssimo. O título referiria-se ao Dr. Doolittle, que, quem teve infância sabe, tinha o dom de falar com os animais. Era para ser Whore (Prostituta), mas Francis achou "católico demais, ou bobamente anticatólico". Preferiu o homem que falava com as bestas, conceito que traduz seu estilo adoravelmente demente de cantar, um diálogo com monstros interiores.

Já na primeira faixa, "Debaser", Francis incorpora um freak adolescente urrando de excitação depois de ter assistido ao filme Un Chien Andalou, de Luis Buñuel, e tentando transmiti-la para uma colega. "Garotinha, é tão legal... ha ha ha ho! Fatiando os globos oculares... ha ha ha ho! Não sei de você, mas eu sou ‘un... chien andalousia’! Quero crescer para ser um pervertor." A voz de Kim Deal ecoa Francis ironicamente sexy: "Pervertor!" Em "Hey", os grunhidos e gemidos dos dois fazem sexo animal - a música é mais nirvanesca do que o próprio Nirvana - encaixaria perfeita em In Utero, com as vozes de Kurt e Courtney.

"Tame" começa falando em "lábios de Cinderela", mas em poucos segundos explode num grito psicopata: "Você é tão mansa!" Kim geme, Francis arfa, as guitarras uivam, e todos (inclusive o ouvinte) chegam juntos a um orgasmo sonoro.

Em várias faixas, guitarras surf de Joey e Black prenunciam o revival promovido pelo locadora boy Quentin Tarantino. David Lovering canta um delicioso deboche sixties, "La La Love You". "Monkey Gone To Heaven" tem celos, cordas, backing vocais celestiais de Kim Deal e uma desconcertante equação na letra: primata em desacerto com a natureza + numerologia bíblica = apocalipse.

A poesia de Francis é tão brilhante quanto os desenhos melódicos de sua guitarra: "Beijei sereias, cavalguei o El Niño, andei pela areia com crustáceos, numa onda de mutilação". O produtor Gil Norton chegou a ficar assustado com alguns versos, mas Francis o tranqüilizou: "É tudo bobagem, eles não querem dizer nada, são só sons que eu junto". Pois sim. Confiram a travadíssima "I Bleed": "Alto feito o inferno, um sino toca atrás do meu sorriso, sacode meus dentes e, esse tempo todo, enquanto os vampiros se alimentam, eu sangro".


Faixas:
"Debaser"
"Tame"
"Wave Of Mutilation"
"I Bleed"
"Here Comes Your Man"
"Dead"
"Monkey Gone To Heaven"
"Mr. Grieves"
"Crackity Jones"
"La La Love You"
"No. 13 Baby"
"There Goes My Gun"
"Hey"
"Silver"
"Gouge Away"

O disco chegou ao oitavo lugar na parada inglesa. Naquele mesmo ano, Francis deu shows solo e Kim Deal fundou The Breeders. Os Pixies nunca mais foram os mesmos. Lançaram ainda dois álbuns, Bossanova e Trompe Le Monde, e tiveram seu fim anunciado oficialmente em janeiro de 1993. Francis, que já gravou três álbuns usando o nome Frank Black, dizia que não agüentava mais tocar "Monkey Gone To Heaven".

quarta-feira, fevereiro 16, 2011

RÁPIDO & RASTEIRO

:: O Foo Fighters finalmente anunciou o nome de seu novo disco, o sétimo de estúdio. Será chamado Wasting Light, e o primeiro single é da música “Rope”. E como disse antes, o lançamento será dia 12 de abril. Esse vale a pena ter o CD original! E já tem clip novo, da música “White Limo”, com participação do Lemmy, do Motorhead. Pesadaço o som, lembra o Queens of the Stone Age. Olha só:

:: Os Rolling Stones lançará em abril um box contendo singles das últimas 4 décadas. The Rolling Stones Singles (1971-2006) terá 45 singles, de Brown Sugar, de 1971 até Biggest Mistake, de 2006, com seus respectivos lados B, totalizando nada mais, nada menos que 173 músicas. Pra ficar com água na boca:

:: E o Radiohead pegou meio mundo de surpresa ao anunciar o lançamento de seu novo disco, The King of Limbs, já para o próximo sábado, quando estará disponível para download oficial. A versão física sairá apenas em 9 de maio. Numa época quando qualquer detalhe bobo de uma banda, filme ou série ganha contornos de grande notícia nos sites, acho uma boa o Radiohead já chegar chutando tudo, já anunciando que está tudo pronto e que já vai ser lançado.

:: Metallica entrando em estúdio para gravar o que não será um disco 100% Metallica (como assim?! Garage Days Revival?!); PJ Harvey de disco novo, Let England Shake (achei estranho, preciso ouvir mais); novo single dos Strokes, “Under Cover Of Darkness” (não me empolguei, como suspeitava); Soungarden trabalhando em músicas novas (finalmente!) etc, etc... Impressão minha ou 2011 começa bem agitado?

domingo, fevereiro 13, 2011

REAÇÕES PSICÓTICAS - LESTER BANGS

Todos devem conhecer o Lester Bangs por Quase Famosos. Na pele do ator Philip Seymour Hoffman, ele faz uma pequena participação no filme, aparecendo algumas vezes dando dicas ao protagonista. Mas Bangs foi bem mais do que uma nota de rodapé num filme sobre uma banda fictícia. Ele foi um dos maiores críticos musicais americanos, senão o maior, escrevendo para revistas como Rolling Stone, Creem e NME.

Reações Psicóticas é uma coletânea de textos de Bangs, publicados entre 1972 e 1980. O melhor deles é “Vamos Agora Louvar os Famosos Duendes da Morte”, sobre o Lou Reed. Nele, jornalista e artista, ambos chapadaços, passam praticamente o tempo inteiro da entrevista xingando um ao outro, tornando o texto antológico. Outros, como John Lennon, Iggy Pop – um dos favoritos do escritor –, Van Morrison, Kraftwerk e Elvis Presley abrilhantam o livro.

Infelizmente, Lester Bangs foi embora cedo, morrendo em 1982 em decorrência de uma overdose de medicamentos, quando tentava curar o vicio do álcool. Seria interessante ver sua opinião sobre o grunge, o britpop, as bandas que salvariam o rock nos anos 00 etc.

A nota negativa da edição nacional da Conrad é que ela traz apenas uma seleção dos textos publicados na edição gringa. Enquanto a edição americana tem mais de 400 páginas, a nossa nem chega às 150. Mais ainda assim vale a pena, nem que seja para servir de entrada no mundo do Lester Bangs.

Para terminar, as opiniões do Greil Marcus, editor original da antologia, e do Kurt Cobain sobre Lester, presentes no verso da edição nacional:

“Talvez o que este livro exija do leitor seja a disposição em aceitar que o maior escritor norte-americano tenha escrito apenas análises de discos.” Greil Marcus

“O que Lester Bangs escrevia me atingiu em cheio e me fez perceber que existia uma comunidade alternativa, com pessoas diferentes. Os textos dele me ajudaram a entrar em contato com pessoas como eu.” Kurt Cobain

sexta-feira, fevereiro 11, 2011

NFL RULES!

Domingo passado foi dia do Super Bowl, a final da NFL – Liga de Futebol Americano – entre Green Bay Packers e Pittsburgh Steelers, com a vitória do primeiro. Pela primeira vez consegui acompanhar bem a temporada inteira, assistindo a pelo menos uma partida por rodada. Conheci mais o jogo e passei a torcer veementemente por um time, o New England Patriots, aquele mesmo onde joga o Tom Brady, marido da Gisele Bündchen, que acabou ganhando o titulo de MVP (Most Valuable Player) do campeonato.

O Patriots, apesar da melhor campanha na temporada regular, infelizmente não foi muito longe nos playoffs. Engraçado que só depois descobri que o Patriots é de Massachusetts, estado que também abriga o Boston Celtics, meu time na NBA – deve ter algo diferente por lá que me atrai.

O futebol com a bola oval é o esporte favorito dos americanos, com estádios lotados e audiências televisivas altíssimas – o Super Bowl é sempre o evento mais esperado do ano, e colocar um mero comercial de 30 segundos no intervalo custa uma verdadeira fortuna –, e até a liga universitária, em termos de organização e grana envolvidas, deixa no chão qualquer campeonato do nosso futebol em terras tupiniquins.

Agora que me viciei, eu queria saber, sendo o esporte favorito nos Estados Unidos e tal, e o campeonato durando de setembro ao começo de fevereiro, como eles conseguem ficar sem ver uma partidinha sequer nesse intervalo todo entre uma temporada e outra?!

quinta-feira, fevereiro 10, 2011

segunda-feira, fevereiro 07, 2011

RÁPIDO & RASTEIRO

:: Confirmado para 12 de abril próximo o lançamento do aguardado novo disco do Foo Fighters, ainda sem título definido. A banda já tem tocado sons novos em shows, uma vasculhadinha básica no You Tube e você encontra algo. Aqui deixo um teaser de uma das novas músicas de Dave Grohl e Cia:

:: Outra banda que está com o disco novo saindo do forno é o Raveonettes. Será o 5º álbum de estúdio da dupla, e se chamará Raven In The Grave, com previsão de lançamento para 4 de abril. No início dos anos 00 eles entraram no balaio de bandas que salvariam o rock, mas depois ficaram meio deixados de lado. Mas eles permanecem na ativa até hoje, lançando boa música. Foto da Sharin Foo, vocalista, baixista e pitel:

:: Comemorando os 20 anos da banda, o Pearl Jam vai lançar novas edições de Vs e Vitalogy, com bônus tracks, que sairão separadamente e também num box set de 3 CDs. A versão box conterá um show realizado em Boston em 94. E lançarão também uma versão motherfucker, com 5 vinis, 4 CDs, 1 K7 e outras cositas. E eu que nem comprei a versão deluxe de Ten ainda...

:: Na semana passada o White Stripes anunciou seu fim. Em um texto postado no site oficial da banda, a dupla disse que não gravará mais novos discos nem fará mais shows. Não falaram quais seriam as razões da separação, mas foi dito que não foi nada como diferenças musicais, problemas de saúde ou algo do tipo. A nota ainda dizia que agora o White Stripes pertence a nós, fãs, e que a beleza da arte e da música é que ela pode durar para sempre (sniff). Jack White deve continuar com seus dois projetos, o Raconteurs e o Dead Weather, além de estar no comando de sua gravadora, a Third Man Records. Já a Meg, bem, ela deveria aproveitar que tem mais tempo livre e aprender a tocar melhor sua bateria, o que acham?!

:: E a volta de Beavis & Butt-head, heim? Cool!