sexta-feira, junho 29, 2007

20 DISCOS QUE MUDARAM O MUNDO pt. 6

(texto extraído da revista ZERO nº 8)

BLACK SABBATH
BLACK SABBATH

Photo Sharing and Video Hosting at Photobucket


Lançamento: 13 de fevereiro de 1970
Nas paradas: nº 23 dos álbuns pop da Billboard
Algumas influências: Jimi Hendrix, Howlin’ Wolf, Muddy Waters, Elvis Presley, magia negra
Alguns influenciados: Metallica, Soundgarden, Nebula, Alice in Chains, Queens of the Stone Age, Corrosion of Conformity


O que dizer de um álbum que tem no seu prólogo toques de sino, trovões e uma chuva devastadora, um riff assustador e a voz de Ozzy Osbourne clamando por perdão? Dessa maneira, quatro garotos de Birmingham, Inglaterra, fizeram história. O debute do Black Sabbath foi gravado em apenas três dias e custou insignificantes 600 libras.
John Michael Osbourne (vocal), Frank Anthony Iommi (guitarra), Terrence Michael Butler (baixo) e William Thomas Ward (bateria) haviam formado, dois anos antes, a banda de blues Polka Tulk. Por isso, não é de se estranhar que “The Wizard”, a segunda música do álbum, seja pontuada por uma gaita bem no estilo Howlin’ Wolf.
O baixo de Geezer Butler puxa N.I.B.. Algumas interpretações quanto ao nome da música, além da original “Nativity In Black” – “Name In Blood” e a mais chula: que a barba de Bill Ward parecia uma caneta da marca NIB.
A capa do primeiro play do Sabbath também suscitou dúvidas. Uns diziam que era o próprio Ozzy, outros que era a esposa de Bill Ward em seu campo de algodão e os mais inspirados, que era uma bruxa do mal. Na verdade, a moça da capa era simplesmente uma atriz contratada para as fotos.

Efeitos no Brasil: A influência do som pesado do Black Sabbath encontraria respostas em meados da década de 70. A música, poluída de nomes como Raul Seixas, Os Novos Baianos e Tutti-Frutti, no começo dos 70, recebeu o hard rock do Made In Brazil, A Patrulha do Espaço, O Peso e Bixo de Seda, instaurando a cena do rock pesado pela primeira vez no país.
Enquanto isso...: O futebol brasileiro se torna tricampeão mundial no México. Pelé se consolida como o rei do futebol. Tem início a construção da Rodovia Transamazônica. “Bridge Over Troubled Water”, de Simon & Garfunkel, e “Let It Be”, dos Beatles, dividem as paradas americanas de singles. Morrem Jimi Hendrix e Janis Joplin. Os Beatles se separam. Nascem Rivers Cuomo (Weezer) e Mariah Carey.

quinta-feira, junho 28, 2007

LETRA TRADUZIDA

PEARL JAM
BLACK
PRETO


Sheets of empty canvas
Folhas sobre lonas vazias
Untouched sheets of clay
Folhas intocadas de argila
Were laid spread out before me
Estavam espalhadas diante de mim
As her body once did
Como um dia o corpo dela esteve
All five horizons
Os cinco horizontes
Revolved around his own
Girando ao redor de sua alma
As the earth to the sun
Como a terra ao redor do sol
Now the air I tasted and breathed
Agora o ar que eu provei e respirei
Has taken a turn
Deu uma virada
And all I taught her was, everything
E o que eu ensinei a ela era tudo
I know she gave me all, that she was
Eu sei que ela me deu tudo que ela era
And now my bitter hands
E agora minhas mãos cortadas
Chafe beneath the clouds
Impacientam-se sob o céu
Of what was everything
Do que era tudo
Oh, the pictures have
Todas as pinturas estão sendo
All been washed in black
Lavadas em preto
Tattooed everything
Tatuando tudo

I take a walk outside
Eu dou um passeio lá fora
I´m surrounded by
Eu sou cercado por
Some kids at play
Algumas crianças que brincam
I can feel their laughter
Eu posso sentir suas risadas
So why do I sear?
Então por que eu me entristeço?
Oh, and twisted thoughts that spin
E giram pensamentos que circulam
Round my head
Ao redor da minha cabeça
I´m spinning
Eu estou girando
I´m spinning
Eu estou girando
How quick the sun can drop away
Tão rápido quanto um pôr-do-sol

And now my bitter hands
E agora minhas mãos machucadas
Cradle broken glass
Embalam vidros quebrados
Of what was everything
Do que era tudo
All the pictures have
Todas as pinturas estão sendo
All been washed in black
Lavadas em preto
Tattooed everything
Tatuando tudo
All the love gone bad
Todo amor se tornou mal
Turned my world to black
Levou meu mundo pro escuro
Tattooed all I see
Tatuando tudo que eu vejo
All that I am
Tudo que eu sou
All I´ll ever be
Tudo que eu poderia ser

I know someday you´ll have a beautiful life
Eu sei que um dia você terá uma vida maravilhosa
I know you´ll be a star
Eu sei que você será uma estrela
In somebody else´s sky
No céu de outro alguém
But why?
Mas por quê?
Why?
Por quê?
Why can´t it be
Por que não poderia
Why can´t it be mine
Por que não poderia ser no meu?

Toda banda de rock ‘n’ roll que se preza tem que ter uma balada, um momento onde as pessoas nos shows levantam seus isqueiros acesos (ou celulares) e abraçam seus respectivos brotinhos. E como bons alunos da escola do rock, o Pearl Jam apresentou a sua logo no seu álbum de estréia, Ten, do maravilhoso ano de 1991. Com letras de Eddie Vedder e trazendo uma performance emocionante do próprio, essa música já embalou altos períodos de bode desse que vos fala, principalmente naquela época dura da adolescência. Se eu tivesse tido a manha (e a coragem) de fazer um mix tape para alguma garota que estivesse a fim, com certeza “Black” estaria no repertório. Os versos finais doem até hoje.

sábado, junho 23, 2007

PACOTE DA SEMANA

Se na última vez que fui à banca saí de mãos vazias, na minha ida semanal realizada ontem meu lado fanboy saiu feliz da vida (não posso dizer o mesmo do meu bolso). Além disso, também chegou minha encomenda do Submarino, com O Cavaleiro das Trevas e Sandman – Vidas Breves (ambos ganharão textos assim que forem lidos; se você me conhece, isso deve demorar um pouco, hehehe). Muita coisa para ler, confira:

Photo Sharing and Video Hosting at Photobucket


Superman # 55: o pulo de um ano na cronologia fez bem ao Homem de Aço. O arco “Para o Alto e Avante” promete ser antológico. Escrita a quatro mãos por Geoff Johns e Kurt Busiek e com desenhos divididos entre Pete Woods e o brasileiro Renato Guedes, a trama mostra um Clark Kent sem poderes (e se sentindo bem por isso) e Metrópoles se perguntando: Onde estará o Superman? Houve uma grande empolgação durante a fase de Azzarello/Lee e Rucka/Clark, mas é agora que as coisas começam a valer a pena mesmo. Completam a revista a Supergirl, que não cheira nem fede, e o milésimo arco publicado simultaneamente da LJA Classified, que até começou bem, mas dá sinais que perdeu a força.

Photo Sharing and Video Hosting at Photobucket


Batman # 55: o Um Ano Depois também fez bem ao Morcegão. As últimas histórias escritas por Judd Winick e aquele tal de A. J. Lieberman (que dizem ser na verdade o John Byrne) estavam tristes de ruim. Taí o retorno sem noção de Jason Todd para provar isso. Mas finalmente isso agora é passado. Antes da fase comandada por Grant Morrison e Paul Dini chegar, James Robinson traz o arco em oito partes “Cara a Cara”, que se não é inovador, é infinitamente melhor do que o que vinha sendo publicado anteriormente. Nos desenhos, a dupla Leonard Kirk e Dom Kramer (ambos com passagens pela SJA) faz um trabalho excelente. E tudo bem que reclamamos (na maior parte do tempo com razão) da mesmice dos quadrinhos de super-heróis, mas é bem legal ver o Comissário Gordon de volta e ter a dupla dinâmica combatendo os criminosos como antigamente. Nessa edição ainda temos o Asa Noturna do Bruce Jones, que, dizem, fez um trabalho tão ruim que a DC teve que substituí-lo às pressas para evitar que o título afundasse mais ainda, e o início de um arco tirado de Legends of the Dark Knight, que vai ocupar a revista enquanto Batman Confidential não chega.

Photo Sharing and Video Hosting at Photobucket


DC Especial # 12 – Gavião Negro: durante esse tempo todo de distribuição setorizada, esta deve ter sido a revista que teve a jornada mais conturbada. Com data de capa de dezembro de 2006 (!), saiu nas bancas do Rio e São Paulo em fevereiro, e só agora aporta nas demais regiões. Como se todos esses atrasos não fossem suficientes, as histórias apresentadas na revista são de 2003, enquanto todas as demais revistas DC estão publicando histórias que saíram nos EUA no ano passado. Fora esses percalços, essa edição merece o investimento, até porque os roteiros estão por conta de um Geoff Johns inspirado, antes de assumir seus mil títulos mensais. Temos três histórias: “Matadores”, em duas partes, com arte de Ethan Van Sciver e Don Kramer; “A Thanagariana”, em três partes, com os desenhos de Rags Morales; e o one-shot “Linhagem”, arte de José Luis García-Lópes.

Photo Sharing and Video Hosting at Photobucket


Justiça # 1: se DC Especial demorou horrores para chegar nesse fim de mundo, essa primeira edição de Justiça chegou antes do tempo (nesse caso não estou reclamando; é só para salientar a falta de critério da distribuição por fases). Nessa maxi-série em 12 edições, temos a adaptação de um antigo episódio do infame desenho animado Super Amigos, com a promessa de que a história ganhará ares mais adultos. Alex Ross divide o roteiro com Jim Krueger e a arte com Doug Braithwaite. Bem, na pior das hipóteses teremos um gibi de encher os olhos, o que já é de bom tamanho.

Photo Sharing and Video Hosting at Photobucket


Homem-Aranha – Grandes Desafios # 3: a fase do Aracnídeo em sua revista mensal anda mal das pernas faz tempo, então a solução é se virar com histórias do seu passado. Esse terceiro volume (dum total de seis) tem tudo para ser o melhor deles, afinal temos publicadas aventuras da fase de ouro do personagem, originalmente dos anos 1960, escritas por Stan Lee e desenhadas por John Romita Sr. São quatro histórias: “Como Era Verde o Meu Duende!” (de agosto de 66); “O Aranha Salva o Dia!” (setembro de 66); “O Duende Vive!” (novembro de 68); e “Homem-Aranha Nunca Mais!” (julho de 67; eles gostavam de uma exclamação, heim?). Temos ainda o fac-símile da edição que mostra a primeira aparição do Duende Verde, pela dupla Stan Lee e Steve Ditko, publicada em julho de 1964.

Photo Sharing and Video Hosting at Photobucket


Yuki – Vingança na Neve # 3: este é o mangá que teria inspirado Tarantino a fazer Kill Bill. Do review oficial: “A história de uma vingança: uma criança nasce com o objetivo de vingar a morte de sua família. Yuki foi gerada pela violência. A única herança que recebeu foi a vontade de fazer justiça. Com as próprias mãos!”. A arte é do criador de Lobo Solitário, Kazuo Koike. Até agora só li a primeira edição, e gostei muito. Violência extrema com pitadas de sexo. No total são seis volumes, e estou comprando o encalhe, que apareceu nas bancas com três reais de desconto em relação ao preço de capa. Para quem quer fugir um pouco do convencional e não está a fim de investir em algo com muitas edições, é uma boa pedida.

Ao som de Songs For The Deaf, terceiro álbum do Queens Of The Stone Age, na função randômica.

sexta-feira, junho 22, 2007

DEMOLIDOR ANUAL # 1

Photo Sharing and Video Hosting at Photobucket

Demolidor Anual #1 foi lançado em maio do ano passado, em abril último apareceu por aqui o encalhe, e nessa semana finalmente o li. E nossa, que gibi sensacional! O Luwig (The Pulse, linkado ao lado) estava certo ao puxar minha orelha por não ter comprado quando primeiro apareceu nas bancas. Para quem quer ver mais o lado advogado de Matt Murdock, esse especial é um prato cheio, quando ele vai para uma pequena cidade do interior americano para defender um jovem acusado de assassinar uma criança de nove anos. E se você não curte o gênero super-herói, mas adora filmes e séries de tribunal, pode investir sua suada grana nesse gibi sem medo. Dá uma procurada nos sites de venda que você encontra fácil. E, aqui pra nós, que personagem sortudo esse Demolidor, heim? Como se não bastasse as recentes fases com Kevin Smith e Brian Michael Bendis nos roteiros, e a atual sob o comando de Ed Brubaker, ele ainda ganha especiais excelentes como este. Melhor leitura atrasada do ano, certamente.

quinta-feira, junho 21, 2007

FALA QUE EU TE CHUPO

-Pois é, andei meio sumido. Mas é legal uma pausa para reciclar as idéias. Nesse meio tempo andei fazendo aquilo de sempre: vendo TV, lendo gibis e ouvindo música.

-Vocês devem ter ouvido falar da fusão da Directv com a Sky, certo? Nela ficou decidido que quem tem Directv (o caso aqui em casa) terá seu equipamento trocado pelo da Sky. Mas pensei que isso iria demorar séculos para acontecer. Mas no finalzinho de maio recebo uma ligação para agendar a troca. Pois bem, desde então aumentei consideravelmente a quantidade de horas diárias a frente da telinha, conhecendo os novos canais. Meu, agora temos mais de 15 canais de filmes, incluindo HBO (que já tínhamos antes) e Telecine (viciei no Telecine Cult). Pelo jeito nunca mais passo numa locadora, hehehe. E finalmente agora posso assistir The Office e My Name Is Earl, ambos do FX. E ainda tem Sportv, Globo News, Multi Show, TCM etc. Lembra um pouco meu tesão quando instalaram a Directv por aqui, no longínquo ano de 1998, quando ficava sintonizado das 10 da manhã até 2 da madrugada. Nada como uma boa novidade, né?

-Gibis, gibis e mais gibis! Tenho lutado para colocar a leitura em dia há um tempão. O fato é que tenho comprado mais do que consigo ler. Mas no segundo semestre dou um jeito nisso, quando farei mais um corte na minha lista de compras (Superman & Batman e Marvel Millennium irão para o saco). Falando em compras, aproveitei uma promoção monstro do Submarino: a edição definitiva de Cavaleiro das Trevas, versão com capa cartonada, estava custando módicos R$ 39,90 (o preço de capa é R$ 69,90), com frete grátis. Comprei também o 7º volume de Sandman, Vidas Breves, também com frete gratuito. Usei um vale desconto de 15%, totalizando menos de 75 reais, dividido em duas vezes no cartão. Ótimo negócio!

domingo, junho 03, 2007

40 ANOS DO SARGENTO PIMENTA

Photo Sharing and Video Hosting at Photobucket

Claro que não poderia deixar passar a ocasião do aniversário de 40 anos do Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, clássico disco dos Beatles que revolucionou o rock and roll, e postar algo sobre o mesmo, trazendo dois textos publicados em antigas edições da revista Bizz. Primeiro teremos a primeira Discoteca Básica da revista, publicada na edição de estréia. Melhor maneira de começar não há. Depois um texto destacando a belíssima capa do álbum, extraído do especial As 100 Maiores Capas de Discos de Todos os Tempos. Vamos lá:

Photo Sharing and Video Hosting at Photobucket

"Cada década produz um ou dois momentos autenticamente memoráveis. Em regra, apenas uma guerra ou uma tragédia apavorante conseguem penetrar as preocupações de milhões de pessoas ao mesmo tempo e ocasionar uma única e bem orquestrada emoção. Mesmo assim, em junho de 1967, tal emoção brotou sem ter sido causada por nenhuma morte, mas pela simples audição de um disco." Trecho do livro Shout!, de Philip Norman.
O tal disco era Sargeant Pepper´s Lonely Hearts Club Band. Ainda hoje existem centenas de milhares de pessoas que lembram-se com clareza cristalina do primeiro dia em que ouviram um trecho ou uma faixa de Sgt. Pepper´s. Na maioria dos casos, ficou na memória a lembrança de um imenso pasmo - feita pelo grupo pop mais famoso do mundo, ali estava uma coleção de sons musicais absolutamente inédita, revolucionária. Nunca se ouvira (ou se imaginara) coisa parecida: rock´n´roll misturado com vaudeville, ragas indianas entremeadas a cravos renascentistas, atmosferas psicodélicas combinadas com climas circenses. E também havia as letras, que para o suplemento literário do jornal inglês The Times eram "um barômetro dos nossos tempos" - fragmentos de imagens coladas num ritmo vertiginoso, lado a lado com os comentários sócio-políticos mais agudos. Sgt. Pepper´s expandiu o vocabulário e o alcance do rock como jamais se sonhara, elevando o gênero à inédita posição de arte.
A idéia do disco surgiu de uma música de Paul McCartney - "Sgt. Pepper´s Lonely Hearts Club Band", que ele compusera inspirado na onda de nostalgia vitoriana que na época varria a indústria de moda londrina. A música falava de uma banda imaginária liderada, vinte anos atrás, por um tal Billy Shears. Nada de mais. Até que Paul sugeriu a George Martin, produtor dos Beatles: por que não fazer um álbum inteiro como se a Sgt. Pepper´s Band existisse mesmo? Como se fosse a banda do Sargento Pimenta que estivesse tocando?
Martin tremeu na base. As máquinas de quatro canais usadas nos estúdios da época não comportariam a quantidade de idéias que os Beatles faziam jorrar. A solução foi um intrincado sistema de interligação de gravadores que gerou uma enormidade de superposições de fitas. E as fitas nunca pareciam suficientes para a criatividade dos Beatles - encharcados de LSD, eles escancararam as portas de sua percepção. Aobra-prima de Sgt. Pepper´s foi uma das últimas verdadeiras parcerias de Lennon e McCartney. John havia começado a escrevê-la sozinho, baseado em dedicada leitura dos jornais e na morte da milionária Tara Browne, amiga dele e dos Stones, vítima de um acidente automobilístico. Paul ofereceu para John algumas frases curtas - "acordei, caí da cama, arrastei o pente pela minha cabeça". "A Day in the Life", a música escolhida para encerrar o álbum, foi, provavelmente, a faixa mais difícil - todas as demais davam uma sensação de picadeiro de circo, até mesmo a indianista e intimista "Within You, Without You", de George Harrison, que terminava em gargalhadas. Em "A Day ín the Life" os Beatles queriam ser sérios. Como nunca. Para o grand finale da música John pediu, literalmente, “um som que crescesse do nada e chegasse até o fim do mundo". Martin encomendou uma orquestra de 41 músicos. Deu a eles apenas uma instrução: disse quais eram as notas mais altas e mais baixas que teriam que tocar. No miolo, era cada um por si. O resultado estonteante foi comparado por um crítico ao som "de um sarcófago sendo fechado", mas para os Beatles ainda não era um encerramento definitivo. Adicionaram, nos últimos sulcos do disco, duas coisas a mais: primeiro, um palavreado incompreensível gravado de trás para frente. Depois, uma nota na freqüência de 20.000 hertz, audível apenas para cães. (Bizz #01, agosto de 1985)

Photo Sharing and Video Hosting at Photobucket

Em 1967, enquanto os Beatles trancafiaram-se por quatro meses nos estúdios para fazer sabia-lá-Deus-o-que, o mundo girou rapidamente. Hendrix, Pink Floyd, psicodelismo, LSD, rádios piratas. "I Want to Hold Your Hand" já não podia sonorizar o planeta. Por intermédio de Peter Asher (irmão de sua namorada, Jane Asher, e metade do duo Peter & Gordon), Paul McCartney conheceu o mexicano John Dunbar, formado em artes em Cambridge, fanático por jazz radical, Duchamp, Beethoven e literatura beat. Em fevereiro de 1966, Peter Asher e John Dunbar uniram forças com o livreiro Barry Miles e fundaram a Indica Bookshop & Gallery. Foi lá que Lennon comprou o Livro Tibetano dos Mortos, que o inspirou a compor "Tomorrow Never Knows" e, algum tempo depois, conheceu Yoko Ono. E foi lá que Miles apresentou o marchand Robert Fraser a Paul McCartney.
Fraser era gay, heroinômano, aristocrático e rico de nascença - seu pai mexia com o mercado financeiro e era conselheiro da Tate Gallery. Paul o considera até hoje sua "maior influência artística formativa". Com ele, comprou quadros, foi a instalações, viajou para assistir a concertos de música erudita e experimentou drogas variadas. Quando os Beatles começaram a pensar na capa do álbum que gravavam havia quatro longos meses em clima de total mistério, foi inevitável que Fraser estivesse envolvido.
A idéia básica por trás de Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band era a de que os Beatles "interpretassem" a tal banda do sargento Pepper como seu alter ego hippie. Paul chamou Robert Fraser e explicou que, para a imagem de capa, imaginava o tal grupo - os Beatles em uniformes de banda militar coloridos acetinados - em uma sala forrada com fotos de seus ídolos. Outras idéias transportavam os quatro bigodudos de Liverpool para uma imaginária pracinha de cidade do interior, em algum evento com o prefeito adornado com arranjos florais e coisas do tipo. Fraser sugeriu que, pelo tom nostálgico da coisa e pela enormidade de elementos populares, o homem certo para realizá-la seria Peter Blake.
Blake era um inglês de Kent, famoso pelos quadros repletos de colagens que misturavam peças de memorabilia, pin-ups, capas de disco, brinquedos fora de moda, fotografias triviais e molduras insuspeitas. Estudou arte folclórica, lecionou em várias universidades inglesas e morou por algum tempo nos Estados Unidos, quando desenhou para o jornal Sunday Times. Já era um nome de ponta da pop art britânica. A partir da idéia de Paul, imaginou a bandinha de metais entre um grande arranjo de flores em que se lê BEATLES, sendo laureada por uma multidão de celebridades vindas de recordações mais ou menos desconexas dos músicos - James Dean, Dylan Thomas, Karl Marx, Fred Asteire, Aleister Crowley, Edgard Allan Poe, Oscar Wilde, Tony Curtis, Paramahansa Yogananda e outros gurus de George Harrison, entre outros.
O ex-fotógrafo da Vogue Michael Cooper foi indicado por Fraser (seu amigo do circuito gay inglês, com quem abrira um estúdio no bairro de Chelsea) para clicar a instalação de Blake. A idéia original, de uma imagem ao ar livre, acabou substituída pelo maior conforto que o estúdio de Cooper oferecia. Para acomodar tanta informação visual, os Beatles solicitaram à EMI uma capa dupla. Blake cuidou de um encarte com diversas imagens e insígnias para recortar. Era um autêntico projeto de pop art.
Foi também o início de uma era de extravagâncias no rock. Uma capa, geralmente gerida pelo próprio departamento de arte das gravadoras, custava em torno de 25 ou 50 libras. Em Sgt. Pepper, só a direção de arte de Robert Fraser somada ao cachê de Michael Cooper custaram 1,5 mil libras; Peter Blake levou 200, mas entrou com um processo décadas depois pedindo reavaliação do valor. Os direitos de uso das fotografias das celebridades também passaram das mil libras.
O disco foi lançado em 10 de junho de 1967, vendeu 10 milhões de cópias e se tornou imediatamente um marco na cultura ocidental. Se Peter Blake (que transformou-se em sir em 2002) não recebeu nem mais um tostão de diretos, sua obra mais famosa lhe garantiu um belo lugar na história da música e das artes. E isso, como diz o outro, não tem preço.
(Bizz Especial As 100 Maiores Capas de Discos de Todos os Tempos, maio de 2005)