Antes de ir para o lado negro da força e entrar no mundinho sexo, drogas e rock & roll (expressão apenas para efeito dramático, pois não tinha nada de sexo e drogas), minha praia musical era a dance music. Isso nos idos de 1990. Tinha 13 anos e minha fase de música infantil tinha finalmente terminado, e começava a fase adulta (a-ham). Então, dá-lhe Snap, C + C Music Factory, Black Box e afins.
Mas a artista number #1 era a Lisa Stansfield, inglesinha branca com voz de negona americana (algo comum hoje, com a Duffy e a Amy Winehouse), que revisitava o R&B com uma pitada de modernidade para a virada dos anos 80/90. Seu debut, Affection, de 1989, estourou com o single “All Around The World”, música presente até hoje em programa de flashback nas FMs mundo afora. Na época era difícil achar os discos, ainda em vinil, então quando eu o encontrei perdido numa lojinha que ficava em frente ao ponto de ônibus, todos os dias conferia se ainda estava lá, e o colocava escondido entre outros álbuns. Tempos de dureza, a mesada que recebia era uma verdadeira esmola, demorava para juntar grana. Meses depois, finalmente consegui comprá-lo.
Como era meu único disco, ouvia todo santo dia, algo inimaginável atualmente, quando em 30 minutos (ou menos) consigo “adquirir” a mais nova sensação da NME. Além da já citada “All Around The World”, faixas como “This is the Right Time”, “Live Together” e “What Did I Do to You?” tinham alta rotação na minha velha vitrola Sharp. Muitas publicações da época elegeram Affection como um dos grandes lançamentos de 1989, e o sucesso da cantora rendeu um show no já antológico Rock in Rio II, visto pela telinha da Globo.
Em 1991 veio o temido teste do segundo disco. Real Love, infelizmente, não cumpriu as expectativas, e não tem a regularidade do álbum anterior. Mesmo assim contem algumas pérolas, como o single “Change”, “It’s Got To Be Real” e “Symptoms of Loneliness & Heartache”. Como eu já tinha uns 5 vinis, não cheguei a ouvir diariamente como fazia com Affection. Mas no caso aqui, não precisei sofrer economizando grana, esse ganhei de natal.
Depois disso, conheci Eduardo e sua imensa coleção de discos de rock, quando gravei muitos K-7s (lembram disso?!), comecei a comprar a Rock Brigade, e como um adolescente roqueiro babaca (com o perdão do pleonasmo triplo) passei a renegar meu passado pop. Anos depois, mais inteligente (ou menos burro, escolham) e com a mente mais aberta, comprei as versões em CD desses dois primeiros trabalhos da Lisa, que continua na ativa. Além de seu valor musical, tem o valor sentimental, que, como diz aquele comercial, não tem preço.