Caramba, como esses caras são mal-humorados. Escuta, se você fosse membro de uma das raras bandas de heavy metal que simultaneamente têm dinheiro, apoio da crítica e adoração dos fãs, não ia ser feliz? Não ia relaxar na praia, curtir a vida boa, arrumar uma modelo gostosona para ficar te passando bronzeador?
Ia, claro. Somos apenas humanos - e o Metallica finge que não é. Esses caras acabaram comprando a própria imagem pública - a de monumento vivo da simplicidade, da militância e da integridade roqueira. É um vício sério de todo o thrash, que no Metallica bate especialmente pesado. Ô coisa mais jacu.
Mas, sei lá, funciona. Tanto que, apesar do disco novo ter sido produzido por Bob Rock (o mesmo do Bon Jovi e Motley) e das músicas serem curtinhas e não aquelas pentelhações sinfônicas de antigamente, ninguém teve cara de pau para dizer que o Metallica está diminuindo seu ataque para fazer mais sucesso - o que é, claro, exatamente o que está acontecendo.
O que não faz de Metallica um disco ruim, imagina, isto sim é que era trilha para o Terminator 2. Tem o exato clima de no future futurista necessário. Tem peso, atmosfera, influência clara (não chupação) do Black Sabbath, arranjos complicados que funcionam a favor da porrada e não contra (como nos dois ou três últimos discos). Possui também uma engenharia de som primorosa (bate com o que Jason Newsted diz na entrevista que está nesta edição: "Este é o disco metal com o melhor som jamais produzido"), argumento irrefutável da necessidade de todo mundo comprar o CD o quanto antes.
O disco todo e massacrante. Especialmente dignas de nota são o single "Enter Sandman", a apavorante "Sad But True", a quase-balada "Nothing Else Matters" (com arranjo orquestral de Michael Kamen, trilheiro profissional que fez entre outras coisas a música dos dois Máquina Mortífera) e uma bela homenagem à mitologia estradeira, "Wherever I May Roam".
Metallica é metal moderno para quem leva metal a sério, produzido por uma banda que se leva extremamente a sério e embalado pelo melhor marketing que o dinheiro pode comprar. Há investimentos piores.
(Discos, Bizz # 75, outubro de 1991; texto de autoria de André Forastieri)