SMITHS – BEST OF SMITHS VOL. 1 & VOL. 2 (Warner)
Foi em 82: na Inglaterra, o tom era dado por nomes como Culture Club, Duran Duran, Spandau Ballet e Soft Cell. Homens de maquiagem, sintetizadores, kitsch estudado, poseurs com atitude, David Bowie no altar – a disco desovando seus primeiros herdeiros musicais. O pop inglês era todo pose, glamour, eletrônica e dance negra americana.
Mas ao mesmo tempo, tinha muita gente morando em COHABs cinzentas, putas da vida, se recusando a enterrar o legado punk e achando que aquele pop tinha muito pouco a ver com a vida real na Inglaterra. Não tardou e essa multidão de angustiados de quarto e cultivadores de deprê arrumou alguém que captasse todo esse sentimento e o transformasse em música: Stephen Morrissey.
Não podia ser mais perfeito: um ex-bibliotecário, fã de New York Dolls e apologista de uma tradição popular britânica que ia de Petula Clark à Copa de 66 e que a era do vídeo clip e da comunicação moderna teria “destruído”. Para completar ele vinha de Manchester, poluído centro do norte inglês decadente. Morrissey odiava sintetizadores, Madonna, dance music e os EUA.
A sorte de Morrissey é que ele achou uma boa banda para musicar suas letras de desilusão senão ele estaria condenado a ler poemas para meia-dúzia de gatos pingados (na verdade, o contrário também pode ser dito da banda). Nesta banda também se destacava o guitarrista Johnny Marr, um dos músicos mais inventivos da década de 80. Marr foi talvez o único que entendeu e soube transformar o clima e o espírito das letras de Morrissey em música.
De 82 a 86, os Smiths lançaram uma sucessão de singles magníficos e LPs impecáveis (The Smiths, Meat Is Murder e The Queen Is Dead). A crítica em geral os endeusou, muitas músicas se tornaram hits e um gigantesco e doentio fã-clube se formou. A partir de 87 a bola murchou com o irregular disco Strangeways Here We Come e uma voraz indústria que passou a ver lucro em cada sulco que os Smiths pudesse colocar na rua. Entre 87 e 88, saíram as compilações The World Won’t Listen e Louder Than Bombs e o ao vivo Rank. Todas têm faixas em comum com estes Best Of..., são edições melhores e mais completas mas estão fora de catálogo no Brasil (o mesmo vale para a coleção de singles e gravações inéditas da primeira fase do grupo, o indispensável Hatful Of Hollow). Com certeza, velhos fãs dos Smiths mais antigos têm tudo que está aqui, mas para marinheiros de primeira viagem o disco é uma introdução bem organizada e essencial – tem desde o primeiro single, o raro “Hand In Glove”, até a popular “You Just Haven’t Earned It Yet Baby” – embora pobre em acabamento (sem encarte, dados biográficos etc). Mas é música pop de primeira linha: imediata, criativa, energética e com refrões muito cantáveis.
(Texto escrito por Camilo Rocha, publicado originalmente na Bizz #88, em novembro de 1992)
OBS: Apesar do que foi dito no texto, os meus dois Best Of... têm encartes legais, incluindo as letras das músicas, algo raro em coletâneas. Ah, e esta “You Just Haven’t Earned It Yet Baby” não está presente em nenhum dos dois CDs.
Mas ao mesmo tempo, tinha muita gente morando em COHABs cinzentas, putas da vida, se recusando a enterrar o legado punk e achando que aquele pop tinha muito pouco a ver com a vida real na Inglaterra. Não tardou e essa multidão de angustiados de quarto e cultivadores de deprê arrumou alguém que captasse todo esse sentimento e o transformasse em música: Stephen Morrissey.
Não podia ser mais perfeito: um ex-bibliotecário, fã de New York Dolls e apologista de uma tradição popular britânica que ia de Petula Clark à Copa de 66 e que a era do vídeo clip e da comunicação moderna teria “destruído”. Para completar ele vinha de Manchester, poluído centro do norte inglês decadente. Morrissey odiava sintetizadores, Madonna, dance music e os EUA.
A sorte de Morrissey é que ele achou uma boa banda para musicar suas letras de desilusão senão ele estaria condenado a ler poemas para meia-dúzia de gatos pingados (na verdade, o contrário também pode ser dito da banda). Nesta banda também se destacava o guitarrista Johnny Marr, um dos músicos mais inventivos da década de 80. Marr foi talvez o único que entendeu e soube transformar o clima e o espírito das letras de Morrissey em música.
De 82 a 86, os Smiths lançaram uma sucessão de singles magníficos e LPs impecáveis (The Smiths, Meat Is Murder e The Queen Is Dead). A crítica em geral os endeusou, muitas músicas se tornaram hits e um gigantesco e doentio fã-clube se formou. A partir de 87 a bola murchou com o irregular disco Strangeways Here We Come e uma voraz indústria que passou a ver lucro em cada sulco que os Smiths pudesse colocar na rua. Entre 87 e 88, saíram as compilações The World Won’t Listen e Louder Than Bombs e o ao vivo Rank. Todas têm faixas em comum com estes Best Of..., são edições melhores e mais completas mas estão fora de catálogo no Brasil (o mesmo vale para a coleção de singles e gravações inéditas da primeira fase do grupo, o indispensável Hatful Of Hollow). Com certeza, velhos fãs dos Smiths mais antigos têm tudo que está aqui, mas para marinheiros de primeira viagem o disco é uma introdução bem organizada e essencial – tem desde o primeiro single, o raro “Hand In Glove”, até a popular “You Just Haven’t Earned It Yet Baby” – embora pobre em acabamento (sem encarte, dados biográficos etc). Mas é música pop de primeira linha: imediata, criativa, energética e com refrões muito cantáveis.
(Texto escrito por Camilo Rocha, publicado originalmente na Bizz #88, em novembro de 1992)
OBS: Apesar do que foi dito no texto, os meus dois Best Of... têm encartes legais, incluindo as letras das músicas, algo raro em coletâneas. Ah, e esta “You Just Haven’t Earned It Yet Baby” não está presente em nenhum dos dois CDs.
Um comentário:
Como eu já havia dito lá em Marlo: MORRISSEY PRA SEMPRE!!!
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