terça-feira, novembro 22, 2005

SMITHS – BEST OF SMITHS VOL. 1 & VOL. 2 (Warner)
Image hosted by Photobucket.com
Foi em 82: na Inglaterra, o tom era dado por nomes como Culture Club, Duran Duran, Spandau Ballet e Soft Cell. Homens de maquiagem, sintetizadores, kitsch estudado, poseurs com atitude, David Bowie no altar – a disco desovando seus primeiros herdeiros musicais. O pop inglês era todo pose, glamour, eletrônica e dance negra americana.
Mas ao mesmo tempo, tinha muita gente morando em COHABs cinzentas, putas da vida, se recusando a enterrar o legado punk e achando que aquele pop tinha muito pouco a ver com a vida real na Inglaterra. Não tardou e essa multidão de angustiados de quarto e cultivadores de deprê arrumou alguém que captasse todo esse sentimento e o transformasse em música: Stephen Morrissey.
Não podia ser mais perfeito: um ex-bibliotecário, fã de New York Dolls e apologista de uma tradição popular britânica que ia de Petula Clark à Copa de 66 e que a era do vídeo clip e da comunicação moderna teria “destruído”. Para completar ele vinha de Manchester, poluído centro do norte inglês decadente. Morrissey odiava sintetizadores, Madonna, dance music e os EUA.
A sorte de Morrissey é que ele achou uma boa banda para musicar suas letras de desilusão senão ele estaria condenado a ler poemas para meia-dúzia de gatos pingados (na verdade, o contrário também pode ser dito da banda). Nesta banda também se destacava o guitarrista Johnny Marr, um dos músicos mais inventivos da década de 80. Marr foi talvez o único que entendeu e soube transformar o clima e o espírito das letras de Morrissey em música.
De 82 a 86, os Smiths lançaram uma sucessão de singles magníficos e LPs impecáveis (The Smiths, Meat Is Murder e The Queen Is Dead). A crítica em geral os endeusou, muitas músicas se tornaram hits e um gigantesco e doentio fã-clube se formou. A partir de 87 a bola murchou com o irregular disco Strangeways Here We Come e uma voraz indústria que passou a ver lucro em cada sulco que os Smiths pudesse colocar na rua. Entre 87 e 88, saíram as compilações The World Won’t Listen e Louder Than Bombs e o ao vivo Rank. Todas têm faixas em comum com estes Best Of..., são edições melhores e mais completas mas estão fora de catálogo no Brasil (o mesmo vale para a coleção de singles e gravações inéditas da primeira fase do grupo, o indispensável Hatful Of Hollow). Com certeza, velhos fãs dos Smiths mais antigos têm tudo que está aqui, mas para marinheiros de primeira viagem o disco é uma introdução bem organizada e essencial – tem desde o primeiro single, o raro “Hand In Glove”, até a popular “You Just Haven’t Earned It Yet Baby” – embora pobre em acabamento (sem encarte, dados biográficos etc). Mas é música pop de primeira linha: imediata, criativa, energética e com refrões muito cantáveis.

(Texto escrito por Camilo Rocha, publicado originalmente na Bizz #88, em novembro de 1992)

OBS: Apesar do que foi dito no texto, os meus dois Best Of... têm encartes legais, incluindo as letras das músicas, algo raro em coletâneas. Ah, e esta “You Just Haven’t Earned It Yet Baby” não está presente em nenhum dos dois CDs.

Um comentário:

Anônimo disse...

Como eu já havia dito lá em Marlo: MORRISSEY PRA SEMPRE!!!