segunda-feira, março 10, 2008

AS FACETAS DE BOB DYLAN (PT. 6)

LÁZARO, O QUE VOLTOU DOS MORTOS
Discografia: Infidels (83); Empire Burlesque (85); Knocked out loaded (87); Oh Mercy (89)

PhotobucketPhotobucket
Na capa de Infidels, Bob Dylan, ritual Yarmulk na cabeça, ajoelha-se no solo de Israel. Na primeira faixa do disco, o quase-reggae "Jokerman", sua voz madura, apaziguada, discorre lucidamente sobre as incontáveis armadilhas de um mundo tornado mais complexo, e mais cruel, pela mesma tecnologia que deveria simplificá-lo e salvá-lo. Na virada dos quarenta anos, na entrada de uma década que se revelaria uma estranha mistura de gozo e paradoxo - Aids e Reagan e MTV e computadores e satélites e mídia global dançando alucinadamente -, Dylan parece ter achado o olho do furacão. Robert Allen Zimmerman reconciliou-se afinal com sua criatura: ele, agora, pode ser o menino judeu de Hibbing, o bardo de Greenwich Village e o popstar recluso de Malibu numa única pessoa.
PhotobucketPhotobucket
Os discos se deixam espaçar, calmamente. Dylan compõe como quem volta a andar depois de uma longa enfermidade debilitante, com cuidado. Uma turnê com Tom Petty, discípulo tornado comparsa, constrói vínculos com mais uma geração. Uma aliança com o produtor Daniel Lanois, que vem de outra formação e outra experiência, abre portas insuspeitadas em sonoridade e idéias: Oh Mercy é um triunfo. Quantas mortes e quantas vidas Bob Dylan ainda vai inventar?


(texto de autoria de Ana Maria Bahiana, e publicado originalmente na revista Bizz de janeiro de 1990)