A ordem que Dylan encontra é a mais banal possível: em 1980, para espanto de fãs e não-fãs e delícia da imprensa, ele anuncia que acaba de se converter ao protestantismo fundamentalista, uma das formas mais simplistas de fé religiosa cristã que pode existir. Com um único gesto, Dylan não apenas renega todo o seu passado imediato como livre pensador secular mas também toda a sua história familiar como judeu.
A esterilidade pessoal que se esconde atrás dessa escolha aparentemente estapafúrdia revela-se nos discos deste período - os piores que Dylan conseguiu fazer em toda a sua carreira. Não existe mais o poeta alucinado, o trovador arrogante, o crítico inclemente, apenas um homem sozinho e infeliz, implorando a misericórdia de Deus por pecados reais ou presumidos - o pior deles, sem dúvida, o de ter renegado o próprio talento.
(texto de autoria de Ana Maria Bahiana, e publicado originalmente na revista Bizz de janeiro de 1990)