Na última sexta-feira, faleceu, em decorrência de complicações causadas pela diabete, Syd Barret, um dos fundadores do Pink Floyd, aos 60 anos de idade. Então, em sua homenagem, publico abaixo um texto extraído da revista Rock In Especial Pink Floyd, contando um pouco da trajetória desse artista. Amanhã terá mais um texto, que destaca as homenagens e a influência deixada por Syd Barret nos álbuns posteriores a sua saída do Floyd, e outro na sexta-feira, falando dos seus dois discos-solo. Rest in piece, Syd.
Um dos grandes talentos gerados pela cultura rock e um de seus mártires. Roger “Syd” Barret nasceu em Cambridge no dia 6 de janeiro de 1946, onde desde a adolescência começou a se projetar no circuito boêmio local. Seus primeiros interesses convergiram para a música, pintura e religião. Syd tentou entrar numa seita oriental chamada Saint Saji comandada por estudantes da Universidade de Cambridge, mais foi recusado por aos 19 anos ser considerado jovem demais. A pintura também foi abandonada, apesar de David Gilmour se lembrar de um enorme potencial demonstrado neste campo. Em Londres vivendo como um estudante de arte, ele foi convidado pelo conterrâneo Roger Waters a se juntar a uma banda montada na Politécnica de Arquitetura. Por ser o mais bonito, carismático e talentoso dos quatro, Syd logo chamou todas as atenções assumindo o controle artístico e dando ao grupo o nome Pink Floyd. Antes mesmo de ascender ao estrelato, Syd se tornara uma vital influência entre nomes que circulavam no underground como David Bowie – que em 73 regravaria “See Emily Play” – e Marc Bolan (T-Rex), que criaria um estilo visual calcado nele.
Após o lançamento de “The Piper At The Gates Of Dawn”, quase uma ‘tout de fource’ individual, a pressão pelo sucesso se intensificou na mesma medida que seu comportamento se tornava mais exótico e imprevisível, devido, em parte, ao uso abusivo de LSD. No final de 68 Syd já estava embarcando numa viagem sem volta. A excursão americana fora caótica: durante os shows ele tocava interminavelmente a mesma nota, e nas entrevistas pela televisão encarava fixamente seus inquisidores sem dizer uma palavra.
A saída de Syd Barret constitui um dos pontos obscuros da história do Pink Floyd. A idéia inicial era mantê-lo apenas no estúdio compondo canções geniais como Brian Wilson dos Beach Boys, mesmo porque ninguém mais tinha traquejo neste departamento. O material, no entanto, refletia sua desintegração e se tornava inviável ser executado por qualquer outro. Numa nota oficial, comunicou-se que Syd saíra, mas na verdade o grupo se desfez dele. Waters disse anos depois que o Pink Floyd nunca poderia ter começado sem Barret, mas também nunca poderia ter continuado com ele. Barret gravou dois álbuns, foi para Cambridge onde tentou brevemente montar uma banda, e em seguida se isolou na casa da mãe na mesma localidade.
Enquanto isso, do lado de fora do mundo, lendas sobre ele nasciam e circulavam livremente. O escritório do Pink Floyd recebia telefonemas de pessoas que afirmavam ter visto Syd nos mais diferentes lugares. Comentava-se sobre um terceiro álbum gravado mais nunca lançado e começavam a nascer sociedades de apreciação como se o Messias estivesse sendo esperado. Em 74, Peter Jenner conseguiu trazê-lo de volta ao estúdio. Syd apareceu com uma guitarra sem corda e durante as sessões desaparecia repentinamente. No ano seguinte, gordo e careca, ele apareceu em Abbey Road no dia em que o Floyd mixava “Shine On Your Crazy Diamonds”, composto em sua homenagem. A cena foi tão chocante que levou Roger Waters às lágrimas. Syd sumiu de repente e nenhum outro membro do Floyd voltaria a vê-lo.
O mito não arrefecia e nenhuma entrevista da banda estava completa sem o “e o Syd Barret?” de praxe. Nos anos 80, novos fanzines foram publicados, e no verão neopsicodélico de 87 ninguém tinha mais prestigio que ele. “See Emily Play” voltou às paradas, um álbum tributo por novas bandas foi lançado e Robin Hitchcock, líder do Jesus And Mary Chain, gravou uma homenagem intitulada “The Man Who Invented Himself” (O Homem Que Se Inventou). Àquela altura, graças a uma reportagem publicada numa revista francesa e testemunho de familiares, os admiradores mais ardorosos sabiam que Roger Keith Barret dividia seus dias entre duas paixões: televisão e jardinagem. E já não tinha mais vontade de se lembrar de Syd Barret.
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