sexta-feira, dezembro 02, 2005

CRÍTICAS DA BIZZ ESPECIAL

Claro que não poderia ficar de fora desta Semana Especial Pearl Jam as famosas Críticas da Bizz, seção recorrente no Search & Destroy. Selecionei textos da revista sobre os seguintes álbuns da banda: Ten, Vitalogy, No code e Live On Two Legs. Ten é o clássico primeiro disco dos caras. Lançado em 1991, Ten chegou a vender mais que Nevermind, do Nirvana, nos EUA. O álbum contém pérolas como “Even Flow”, “Alive”, “Black” e “Jeremy”. Esta última, aliás, rendeu um clipe fantástico, vencedor de vários prêmios. Vitalogy é o terceiro disco do PJ, e o primeiro a vir numa caixa especial de papelão, hoje marca registrada da banda. Depois de um segundo disco apenas mediano, os caras voltam a boa forma, criando grande sons, como “Not For You”, “Tremor Christ” (minha favorita), “Corduroy” e “Nothingman”. Claro que a quilométrica “Stupid Mop” estraga um pouco. Seguimos com o quarto disco, No Code, que é mais experimental (em algumas passagens, perto da chamada world music), com guitarras mais econômicas e a maior presença de violões, como em “Off He Goes”, “Present Tense” e “Around The Bend’. Mas ainda temos bons rocks, como “Hail Hail” e “Mankind”. Finalizando temos Live On Two Legs, primeiro álbum ao vivo de muitos de Vedder e cia, gravado durante a turnê do CD Yield, trazendo um apanhado de seus cinco primeiros trabalhos, além de uma versão de “Fuckin Up, do chapa Neil Young. Bem, paro por aqui. Fiquem agora com os quatro textos da Bizz.

PEARL JAM- TEN (Epic/Sony)
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O PJ é o que sobrou do Mother Love Bone – uma das bandas mais poderosas da já tradicional cena de Seattle – mais um vocalista-letrista californiano, Eddie Vedder, que uniu à barulheira soundgardeniana um jeito skate-natureba-apache de ser. Ou seja: este primeiro álbum da banda é metal pesado-mas-não-rápido.
Tudo bem, as passagens lentonas não são monótonas. O som está a serviço de encarnações com os grandes temas à la Morrison: morte, sentido da vida, sexo, universo, relação com a Terra etc. E, apesar desta queda para o cabeção (comprovado pelo uso de cello, órgão, piano e percussão), eles não derrapam na pretensão. Discão.
(Texto de autoria de André Forastieri, publicado originalmente na BIZZ, em fevereiro de 1992)

PEARL JAM – VITALOGY (Epic/Sony)
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Enfim, o terceiro álbum do Pearl Jam. Um disco que por pouco não engrossou a lista dos famosos “álbuns-que-não-vingam”. Afinal, o grupo viveu um ano mais do que difícil enquanto concebia o disco, a começar pelo impacto causado pelo suicídio de Kurt Cobain. Basta lembrar do famoso “esse pode ser o nosso último show, pois a morte de Kurt mudou tudo”, bradado por Eddie Vedder em Nova York, ao final da turnê encerrada prematuramente, graças a uma batalha judicial entre a banda e a empresa Ticketmaster, que negocia entradas para shows nos Estados Unidos.
Para completar, o baterista Dave Abbruzzese resolveu pular fora do barco quando o grupo estava em pleno processo de composição, sendo substituído por Dave Krusen, o mesmo que segurou o primeiro disco da banda, Ten.
Como não poderia deixar de ser, Vitalogy – cujo título foi roubado de um velho almanaque medicinal – reflete o momento de indecisão pelo qual a banda passava. Mas, descontando-se a face pesada do trabalho, ele também traz o grande Pearl Jam. Canções como “Not For You”, “Corduroy” e “Better Man” – sem dúvida, o melhor disco – dão nova vida a uma das bandas que tiraram o rock americano do marasmo da virada dos anos 90.
Nessas três composições – assim como em “Nothingman”, do baixista Jeff Ament – , é possível encontrar a inspiração e o frescor dos tempos de “Oceans” ou “Alive”.
Nelas, o Pearl Jam acerta o foco com maestria, impulsionando pelo vocal de Vedder e os riffs inconfundíveis de Stone Gossard – que, pode-se dizer, criou uma escola nos Estados Unidos.
Da forma que já havia esboçado no disco Vs., agora o grupo também ruma de encontro ao punk rock, principalmente na levada raivosa de “Spin The Black Circle” e mais de leve na primeira faixa de Vitalogy, a ótima “Last Exit” – que descaradamente surrupia a introdução de “All Along The Watchtower”, aquela canção de Bob Dylan imortalizada por Jimi Hendrix.
Há também a serena “Immortality”, uma espécie de referência feita pelos “moleques” do Pearl Jam à maior banda dos anos 80, o R.E.M.. Se não comprometem, as menos inspiradas “Whipping” e “Satan’s Bed” deixam a peteca cair um pouco.
Mas nem tudo são rosas em Vitalogy. A ininteligível “Pry, To” não diz a que veio. Um Eddie Vedder claramente bêbado vem gritar palavras sem nexo, enquanto o resto da banda arranha uma bobagem sonora. Mais: o álcool também dá o tom em “Bugs”, na qual o vocalista encarna um dublê de Tom Waits, com direito até a sanfoninha.
Mas acima de tudo, o maior furo do disco é “Stupid Mop”, pretensiosa colagem sonora que mistura ruídos, vozes de crianças, mais intervenções instrumentais e outras tolices. Algo como um “Revolution #9” – viagem dos Beatles incluída no White Album.
Resumo: Vitalogy não compromete o status adquirido pelo Pearl Jam nos últimos quatro anos, não chega aos pés do fundamental Ten, mas é superior a Vs.. Dê um crédito à banda. Ela merece.
(Texto de autoria de Hélio Gomes, publicado originalmente na Bizz de janeiro de 1995)

PEARL JAM – NO CODE (Epic/Sony)
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Não é mole conciliar o popestrelato com a integridade. Kurt “Bang” Cobain que o diga. Afluente da mesma maré grunge, o Pearl Jam já bateu de frente com empresa de tickets de shows, lançou disco sem o nome do grupo e até colou num survivor do rock essencial, o Neil “Forever” Yong.
Um caleidoscópio de polaroids, as letras rabiscadas de giz ensacadas na capa desdobrável, tudo em No Code dá aquela idéia de rascunho/urgência que combate a armação do produto fabricado. Até o clichê de guitarras rugindo (“Hail Hail”, “Habit”) foi racionado. Porradaria (“Lukin”) e sutileza (“Sometimes”) se alternam, indo da valsa/rock (“Red Mosquito”) a um relance de world music (“Who You Are”), alem de incursões climáticas no folk guiadas pela amargura vocal de Eddie Vedder – que parece ter passado a garganta num oscilador de voltagem. Vai da tensão à depressão como quem atravessava a rua.
O PJ parece ter encontrado a saída do moedor de carne. Um belo disco sem candidatos chapados a hit. Tem de rodar até colar no ouvido.
(Texto de autoria de Tárik de Souza, publicado originalmente na Showbizz de outubro de 96)

PEARL JAM – LIVE ON TWO LEGS (Epic/Sony)
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Vá lá que Eddie Vedder, cantor da única grande banda de Seattle ainda em atividade, às vezes incomode com sua angústia provocada pelo sucesso e sua briga eterna com a Ticketmaster, empresa que controla as vendas de ingressos para shows nos EUA. Quando cala a boca e se concentra em cantar as canções de sua banda, o rapaz mostra porque o Pearl Jam – mesmo lançando discos quase todo ano – segue com o prestigio inabalado.
Dois meses após encerrar a turnê promocional de seu último CD, Yield, o quinteto de Seattle solta seu primeiro disco ao vivo. Reclamações surgirão pela presença no repertório de apenas duas músicas do disco de estréia, Ten, “Even Flow” e “Black”. Mas é justificável que uma banda jovem não queira viver do passado e distribua o set list entre seus cinco discos. Assim, aparecem – com ótima recepção do público, que se esgoela do inicio ao fim – boas canções menos badaladas, como “Hail, Hail”, “Daughter” e “Nothingman”. Vedder segura bem a voz, caprichando nas interpretações mesmo que isso signifique, eventualmente, uma escorregada na afinação. Nada grave, pois o melhor do grunge sempre foi mais emocional.
O instrumental é baseado no ótimo baixo de Jeff Ament, com a bateria do ex-Soundgarden Matt Cameron emprestando mais técnica aos arranjos de seus antecessores. Os guitarristas Stone Gossard e Mike McCready se revezam bem entre os acordes distorcidos e sutis pontuações harmônicas. A versão para “Fuckin’ Up”, de Neil Young, dá toque final a um belo CD.
(Texto de autoria de Bernardo Araújo, publicado originalmente na Bizz de janeiro de 1999).

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