sábado, fevereiro 18, 2006

CRÍTICAS DA BIZZ

Para não deixar em branco a passagem do U2 pelo Brasil aqui no S&D, resolvi ressuscitar o bom e velho quadro “Críticas da Bizz”, trazendo o texto sobre o álbum Achtung Baby, de 1991. Este disco marca uma grande reinvenção no som da banda, com grande influência da música eletrônica que bombava na Europa no começo dos anos 90 (influência que alcançaria seu auge no disco Pop, de 1997). Em um ano que tivemos grandes discos, como Nevermind, do Nirvana, Blood Sugar Sex Magik, do Chili Peppers, Out Of Time, do R.E.M. e o Black Album do Metallica, o U2 nos presenteia com um dos melhores álbuns de sua (já na época) gloriosa carreira. Músicas como “One”, Until The End Of The World”, “The Fly” e “Mysterious Ways” estão até hoje entre as melhores do quarteto irlandês, e com certeza algumas delas estarão no set list do show desta segunda no Morumbi (com transmissão da Globo, vejam só). Bem, chega de enrolação. Vamos ao texto da Bizz, de autoria de Alex Antunes.

U2 – ACHTUNG BABY (Island/Polygram)
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O U2 vai lançar disco novo. Tá tá tá. O disco se chama Achtung Baby... Ops! “Te Cuida Neném” parece coisa do Kojak, não de um grupo que até então batizava seus manifestos com títulos de inspiração bíblica ou coisa parecida (The Joshua Tree, Rattle And Hum, The Unforgettable Fire).
Aí tinha. De fato, os irlandeses que atravessavam os anos 80 carregando a cruz da Decência e da Boa Vontade Entre Os Homens perceberam que, pouco a pouco, a responsa ia sugando sua inspiração – ainda que lhes rendesse os tubos.
O U2 escreve sua história por linhas tortas. Continuo insistindo em que o subestimado LP October, de 81 (que sucedeu a bem-vinda estréia de Boy e antecipou a vigorosa beleza de War), é ao mesmo tempo um bom disco e um ponto de interrogação.
A dramaticidade derramada (eu diria pieguice, mas vá lá) do ao vivo Under A Blood Red Sky é que abriu a trip messiânica dos caras. Tendência que eles tentaram compensar trabalhando com Brian Eno e Daniel Lanois – dois produtores sutis, ao contrario do bombástico Steve Lillywhite que os elevou às paradas. Mas aí o élan dos primeiros discos já era. O cordeiro foi para o brejo. A revisitação das raízes (raízes de quem, cara pálida?) americanas em Rattle And Hum, o álbum duplo e o filme pareciam puro merchandising crente.
E eis que, dez anos depois, eles fizeram a coisa certa. Trocaram a Dublin da “guerra santa” pela Berlin velha de guerra, botaram todos os produtores no mesmo saco (mais o genial engenheiro de som Flood, dos discos do Depeche Mode) e cometeram um troço meio pesado, meio dançante, meio apaixonado: pós-punk tardio, dúbio, como o rock tem que ser.
Mas o susto, ao fim e ao cabo, nem é tão grande. Superado o apavoro das guitarras e vozes saturadas de “The Fly” ou “Zoo Station”, é sempre o bom U2 de Bono, The Edge e Cia (confira o segundo single, “Misterious Ways”).
Honesto, ainda que menos inocente.
ALEX ANTUNES

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