Last Days, o tão falado filme de Gus Van Sant que seria baseado nas últimas horas de Kurt Cobain, líder do Nirvana que se suicidou em 1994 (seria porque o nome do personagem é Blake; vai que a louca da Courtney Love resolver processar), estreou em Cannes em 2005, esteve em algumas Mostras no Brasil, mas nunca chegou a entrar em circuito comercial. No começo desse ano foi finalmente lançado em DVD, e na última segunda-feira estreou no Cinemax, quando finalmente tive a oportunidade de assistir. Nele o diretor aplica mais uma vez a técnica que usou nos seus dois filmes anteriores (Gerry e Elephant), com um tom experimental, longas seqüências, poucos diálogos e quase documental.
Michael Pitt (Os Sonhadores) vive Blake, um rockstar atormentado que parece não ter mais saco para mais nada. Ele passa o dia na sua mansão, perambulando seu destino aparente, às vezes empunhando uma arma, tentando ao máximo evitar se relacionar com todo e qualquer um que atravesse seu caminho. Apesar de não mostrar nenhuma cena com drogas, ele parece passar todo o tempo chapado, grunhindo palavras incompreensíveis. Os amigos que vivem no mesmo teto não dão a devida atenção a esse seu desmoronamento. Com exceção da personagem vivida por Kim Gordon (baixista do Sonic Youth, banda com que o Nirvana fez uma turnê pela Europa, que faz uma pequena ponta), todos parecem apenas esperar pelo inevitável e tentam levar suas vidinhas, seja ouvindo “Venus in Furs” do Velvet Underground no volume máximo ou fazendo sexo.
Alheia a tudo isso, a câmera de Van Sant foca mesmo Blake, em takes longuíssimos, alguns bem interessantes, como aquele que mostra a TV sintonizada na MTV mostrando um clipe dos Boys II Men, uma baba do começo dos anos 90, onde claramente o diretor quis mostrar em que meio estava inserido o Nirvana, que teria causado repulsa por parte de Cobain. Outro momento marcante é aquele que mostra Pitt gritando a plenos pulmões uma canção de sua autoria, mas que tem a marca registrada das composições de Kurt. Quem é fã e viveu aquela época com certeza se arrepiou nessa passagem, como eu. Até chegar ao momento do suicídio. Sem apelações, Van Sant não exibe o momento exato do ato, mas apenas a descoberta do corpo (numa estufa, como de fato ocorreu) por um jardineiro.
Como ficou claro, não é um filme fácil, bem longe do cinemão hollywoodiano, e sua narrativa pouco usual pode afugentar algumas pessoas, e certas passagens podem ser cansativas, mas se alguém decidir entrar nessa viagem vai encontrar uma pequena jóia, longe de ser lapidada, que mostra a visão de Gus Van Sant sobre as últimas horas de Kurt Cobain, com uma atuação soberba de Michael Pitt, que, assim como Val Kilmer quando viveu Jim Morrison no biográfico The Doors, praticamente incorporou a alma do vocalista do Nirvana.
Um comentário:
Vou assistir.
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