sábado, dezembro 26, 2009

ALICE IN CHAINS – BLACK GIVES WAY TO BLUE

O Alice in Chains é uma banda maldita. Não apenas pelo triste fim do seu vocalista, em 2002, como pelo universo obscuro abordado nas canções. Só que neste álbum, primeiro sem Layne Staley, a energia macabra cede espaço à pura potência metal – que sempre foi o diferencial da banda sobre seus contemporâneos de Seattle. Com este trunfo, o grupo vence a desconfiança gerada pela volta após 14 anos, sem um membro-fundador, depois de dois álbuns de pouco sucesso comercial do líder Jerry Cantrell. Black convence por si só. William Duvall, o novo vocalista, se sai bem ao não tentar copiar o estilo distinto e provavelmente inimitável de Staley. Suas entonações são originais e, se por alguns momentos atingem a amplitude do falecido, é por uma semelhança natural entre os dois timbres. A ressonância da voz de Cantrell com a dele não propicia um casamento tão entrosado e, talvez por isso, o guitarrista está um pouco mais calado do que de costume. O baixista Mike Inez nunca se expôs tanto criativamente, e seu passado metaleiro dita o peso do álbum. Ele, Jerry Cantrell e Sean Kinney (bateria) parecem entrosados como nunca. Desconsiderando o importante passado do grupo, este poderia muito bem ser um grande álbum de estréia.

(texto extraído da Billboard Brasil # 01, outubro de 2009; autoria de Carlos Messias)

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O grunge voltou mesmo? Felizmente, não – apenas o Alice in Chains, ou 75% da última encarnação da banda. O fato de ser o primeiro disco de inéditas em 14 anos dá ainda mais crédito ao novo trabalho, que em nenhum momento soa como mera exploração do frequente revival noventista. Pode até ter sido o caso, mas o resultado é honesto, ao ponto de fazer eco ao material que fez o AIC o melhor expoente do rock pesado surgido nos anos 90. No instrumental, a fidelidade é implacável. Black Gives Way To Blue não poderia soar mais Alice in Chains, transbordando dos ingredientes para tanto – os riffs musculosos (“All Secrets Known”), os andamentos modorrentos (“Acid Bubbles”), as paredes de violões (“Your Decision”) e as esquizofrênicas harmonias vocais (“A Looking in View”). A sorte do grupo é ter ótimos músicos (Sean Kinney sempre será um dos bateristas mais subestimados de sua geração). Responsável pelos 25% da novidade, o vocalista William Duvall com certeza não é Layne Staley (morto em 2002), mas cumpre bem a tarefa de fazer a segunda voz ao lado de Cantrell. Não é de mudar o mundo, mas também não o estraga. E é quando o novo frontman se mete a soltar a voz sozinho que a diferença para Staley se evidencia: eles não soam tão assombradamente parecidos como a audição pouco atenta de “Check My Brain” dá a entender. É na verdade o timbre de Cantrell, enlouquecido e tão familiar, que nos remete aos bons tempos que não voltam mais – mesmo que a onda de revival insista em nos dizer o contrário.

(texto extraído da Rolling Stone # 38, novembro de 2009; autoria de Pablo Miyazawa)