Já aconteceu com você de começar a curtir uma banda a partir de um disco errado? Começar a gostar do U2 com o All That You Can’t Leave Behind, conhecer o Black Sabbath com algo sem o Ozzy nos vocais, iniciar sua discografia do Bob Dylan com alguma bobagem que ele lançou nos anos 80, coisas assim...
Bem, comigo aconteceu com o Pink Floyd. O ano era 1994, eu era fã da dobradinha grunge/metal, e já procurava diversificar meu horizonte musical, principalmente porque minha banda favorita não existia mais – foi o ano da morte do Kurt Cobain. O Floyd era para mim, até então, a banda de “Another Brick in the Wall”, já na época um clichezão do rock dito clássico, e quando comecei a ouvir rock, uns dois anos antes disso, nem me passou pela cabeça conhecer os caras. E o rótulo de rock progressivo não era dos mais chamativos.
Então, estava eu um dia numa loja quando me deparo com o recém-lançado LP The Division Bell (só entrei para a era digital no final daquele ano). Como não encontrei mais nada de interessante, e levando em conta que quem iria pagar era meu pai mesmo, levei a bolachona. Vinil lindo de morrer, da cor azul, tenho até hoje, apesar de ter adquirido o CD pouco depois (e de também ter furtado o cassete original - coisas de adolescente).
Ouvi muito o velho vinil. É bem diferente dos clássicos da banda, é um disco, podemos dizer, de rock adulto. Os experimentalismos de outrora ficaram para trás e eles, já sem Roger Waters, claramente não desejavam reinventar a roda. Faixas como “What Do You Want From Me”, “Take it Back”, “Coming Back to Life”, “High Hopes” e “Wearing The Inside Out” – essa última com vocais do tecladista Richard Wright – eram ótimas para ouvir num fim de tarde/início de noite. Pode-se dizer que, se antes os discos do Pink Floyd serviam para fazer você viajar, The Division Bell foi feito para relaxar.
A crítica em sua maioria detestou, claro, e até a maior parte dos fãs da banda também. E quando eu descobri os demais trabalhos dos ingleses, percebi que o buraco era mais embaixo. Nada aqui chega aos pés de um The Piper at the Gates of Dawn, Meddle, The Dark Side of the Moon ou mesmo The Wall da clichê “Another Brick in the Wall”. Mas, passado tanto tempo, o disco ainda tem aquele valor sentimental, e vez ou outra me pego com vontade de voltar a ouvi-lo. Fora que, talvez, sem ele, não conheceria os demais discos da banda, ou ao menos demoraria mais para me tornar fã deles.