(texto publicado originalmente na revista ESPECIAL BRAVO! BEATLES; autoria de Sergio Martins)
A capa do álbum já entrega a situação: os Beatles, que foram clicados sérios e circunspectos, estavam se cansando dos shows incessantes e do circo de celebridades. Com a pressão de ter que entregar o disco antes do Natal, o quarteto fez o melhor que pôde. As sessões de gravação aconteceram em Abbey Road, de agosto a outubro de 1964. Com pouco tempo para escrever novas canções, os rapazes tiveram que apelar para a antiga fórmula de covers. Em vez de canções de grupos de garotaS ou clássicos da Motown, desta vez eles resgataram criações dos antigos pioneiros do rock, os lendários nomes que fizeram a cabeça deles nos anos 50 e cujas canções incendiavam as noitadas de Liverpool e Hamburgo. O cantor, compositor e guitarrista Carl Perkins era idolatrado por George Harrison e aparece aqui em duas covers: Honey Don’t (com vocal de Ringo) e Everybody’s Trying To Be My Baby(com Harrison cantando). Buddy Holly e seu grupo The Crickets foram uma influência marcante na sonoridade dos Beatles e ganham um tributo com Words of Love, cantada por John e Paul. Chuck Berry é homenageado em Rock and Roll Music, cujo vocal apaixonado de Lennon redefiniu a canção. Paul resgatou a junção deKansas City (composição de Jerry Leiber e Mike Stoller) com Hey, Hey, Hey, Hey(Little Richard), que ele cantava no Cavern. Mr. Moonlight, de Dr. Feelgoog and the Interns, ficou com John. Em suas canções originais, Lennon continuava a abrir o coração. I’m a Loser é um folk rock com letra defensiva, mas reveladora. O mesmo aconteceu com I Don’t Want to Spoil the Party, onde o magoado John não queria ser o chato da festa. As canções de Paul são mais seguras e positivas, exemplificas na balada I’ll Follow the Sun e nos rocks Every Little Thing e What You’re Doing.Baby’s in Black, de John e Paul, é uma bizarra valsa com um tema levemente macabro. No Reply, também de John, tinha potencial para ser um single de sucesso, mas os Beatles deixaram a música meio de lado. O grande hit de Beatles For Sale foiEight Days a Week, basicamente uma criação de John. Sua efervescência passava a falsa impressão de que o líder dos Fab Four andava feliz da vida, mas a situação não era bem essa.