(texto publicado originalmente na Bizz 186, janeiro de 2001; autoria de Luís Antônio Giron)
Em peso, os especialistas juram que o quinto CD em oito anos de carreira da cantora e compositora inglesa Polly Jean Harvey é um manifesto de alegria. Assim, o álbum se distinguiria dos anteriores, como Dry, que lançou PJ Harvey ao céu dos depressivos do rock em 1992. Afinal, argumentam, Polly está de namorado novo, mudou-se para Nova York e tudo isso se reflete nas 12 canções de Stories From the City, Stories From the Sea. Não consigo ouvir nada disso no CD. O que percebo no novo trabalho de PJ é uma excelente arremetida artística do gótico sofisticado comum na década de 80 - na qual a musicista foi beber no início da carreira - para um estilo mais claro, inspirado no pré-punk da cantora Patti Smith. E, claro, a presença da terra natal desta, Nova York, se faz sentir em sua paisagem mental. A vida íntima da cantora interessa bem menos do que sua elaboração sonora. O fato é que a linguagem musical se tornou mais definida, os acordes do violão ganharam em nitidez e, nos teclados, sua digitação adicionou sutileza. A voz perdeu o "blur" adolescente. Agora ela salta oitavas para jogar com graves e agudos, mas sem quebrar as notas como faziam os grunges. PJ exibe um vocal mais lírico, afinado e sintonizado com a vida eletrônica - que exige precisão do som para que seja posteriormente reciclado. Nova York comparece nas letras: o terror das ruas em "Big Exit", a nostalgia da casa interiorana em "A Place Called Home", a prostituição em "The Whores Hustle And The Hustlers Whore" e amor, muito amor cosmopolita em "This Mess We’re In", "Kamikaze", "This Is Love", "We Float", baladas planas e lentas como suspiros. "Beautiful Feeling", com melodia lúgubre e versos líricos, sintetiza o CD: o amor é melancólico, PJ Harvey também. Não está mais feliz, não. Como artista, o que ela mostra é mais maturidade.
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