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domingo, junho 12, 2011

BOB DYLAN – THE FREEWHEELIN´ BOB DYLAN (1963)

(texto extraído do livro 1001 Discos Para Ouvir Antes de Morrer)


Se a música folk foi o pilar da cultura popular Americana nos anos 50 e 60, ninguém incorporou as tensões da época tão bem quanto Bob Dylan. E The Freewheeling´ Bob Dylan foi particularmente responsável por firmar sua fama de cantor e compositor de técnica quase perfeita, dotado de uma visão política focada no detalhe, na narrativa e no humor.
O álbum sublinha o compromisso de Dylan com as mudanças sociais (a capa mostra Dylan com sua namorada na época, Suze Rotolo, caminhando por Greenwich Village, onde atraiu atenções pela primeira vez como cantor de folk). Uma trilogia de músicas do disco – “Blowing´ in the Wind, “A Hard Rain´s A-Gonna Fall” e “Masters of War” – parecia englobar o desejo de mudança de toda uma geração. As três permanecem, em muitos aspectos, como as canções mais duradouras de Dylan, regravadas por artistas de todos os gêneros, incluindo o rap, o reggae e o country.
Como sempre, Dylan se desviou do caminho para desafiar as classificações musicais – estabelecendo esse padrão para o resto de sua carreira. Em músicas como “Don´t Think Twice, It´s All Right” e a sublime “Girl from the North Country”, ele joga com a temática do amor trágico das baladas, o surrealismo e até mesmo a comédia. Nesse aspecto, no mínimo, The Freewheelin´... deve muito ao trabalho de uma pessoa que o inspirou no início: Woody Guthrie. Essas músicas igualmente ignoram a embalagem colorida da sociedade americana, preferindo se identificar com as massas oprimidas do campo. Dessa forma, o álbum pode ser visto como um manifesto.
Apesar de Dylan lamentar o rótulo de porta-voz de sua geração, The Freewheelin´... é uma rara evocação de uma época em seu país.

terça-feira, janeiro 04, 2011

BOB DYLAN - LIKE A ROLLING STONE


Este é um dos grandes clássicos do Dylan e da música americana em geral, tanto que ganhou o primeiro posto numa lista das 500 melhores músicas de todos os tempos da revista Rolling Stone. Like A Rolling Stone tinha originalmente uma letra de 10 páginas, editada para caber em seus pouco mais de 6 minutos de duração, e ainda assim pareceu longa demais para a gravadora, que só cedeu e decidiu lançá-la como single após a aprovação de alguns influentes DJs da época. A música chegou ao nº 2 da parada dos EUA.

Com Like A Rolling Stone e o álbum onde a faixa está presente, Highway 61 Revisited, Bob Dylan passou definitivamente de um cantor folk acompanhado apenas de seu violão e sua gaita para um roqueiro empunhando uma guitarra elétrica. A versão do vídeo é a mesma presente no documentário No Direction Home, de Martin Scorsese, na turnê famosa por ter em todos os shows boa parte da platéia chamando Dylan de Judas.

sexta-feira, outubro 29, 2010

MUSIC NEWS

:: Eu já devo ter falado por aqui que Butch Vig está produzindo o novo álbum do Foo Fighters, voltando a trabalhar com Dave Grohl após quase 20 anos do lançamento de Nevermind, do Nirvana. Mais novidades do disco surgiram esta semana. Krist Novoselic, baixista e ex-companheiro de Dave no Nirvana, deve participar em uma faixa desse novo projeto dos Foos, ainda sem título. Grohl falou que esse deverá ser o disco mais pesado da banda, que nas 14 músicas não há uma guitarra acústica sequer e que tudo está sendo gravado de forma analógica na sua própria garagem. Vem coisa boa por aí!

:: Falando no Nirvana, a banda será tema de uma exibição do The Experience Music Project, em Seattle, a partir de abril de 2011. Chamada “Nirvana: Taking Punk to the Masses”, a exibição contará com mais de 200 objetos ligados a banda e diversas fotografias inéditas com os integrantes. Resta reservar um lugarzinho na fila e juntar grana para dar uma passadinha por lá.

:: Foi anunciado um Boxset contendo os 8 primeiros álbuns de estúdio de Bob Dylan em mono, chamado The Original Mono Recordings. São eles: Bob Dylan, de 1962, The Freewheelin’ Bob Dylan, de 63, The Times They Are-a-Changin’, de 64, Another Side of Bob Dylan, de 64, Bringing It All Back Home, de 65, Highway 61 Revisited, de 65, Blonde on Blonde, de 66, e John Wesley Harding, de 67. Os puristas, que não gostaram da versão estéreo de The Freewheelin’, por exemplo, que tem a voz de Dylan no centro, seu violão de um lado e a harmônica de outro, irão babar com esse lançamento, que também terá uma versão em vinil (é, ele está voltando mesmo!).

segunda-feira, março 10, 2008

AS FACETAS DE BOB DYLAN (PT. 6)

LÁZARO, O QUE VOLTOU DOS MORTOS
Discografia: Infidels (83); Empire Burlesque (85); Knocked out loaded (87); Oh Mercy (89)

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Na capa de Infidels, Bob Dylan, ritual Yarmulk na cabeça, ajoelha-se no solo de Israel. Na primeira faixa do disco, o quase-reggae "Jokerman", sua voz madura, apaziguada, discorre lucidamente sobre as incontáveis armadilhas de um mundo tornado mais complexo, e mais cruel, pela mesma tecnologia que deveria simplificá-lo e salvá-lo. Na virada dos quarenta anos, na entrada de uma década que se revelaria uma estranha mistura de gozo e paradoxo - Aids e Reagan e MTV e computadores e satélites e mídia global dançando alucinadamente -, Dylan parece ter achado o olho do furacão. Robert Allen Zimmerman reconciliou-se afinal com sua criatura: ele, agora, pode ser o menino judeu de Hibbing, o bardo de Greenwich Village e o popstar recluso de Malibu numa única pessoa.
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Os discos se deixam espaçar, calmamente. Dylan compõe como quem volta a andar depois de uma longa enfermidade debilitante, com cuidado. Uma turnê com Tom Petty, discípulo tornado comparsa, constrói vínculos com mais uma geração. Uma aliança com o produtor Daniel Lanois, que vem de outra formação e outra experiência, abre portas insuspeitadas em sonoridade e idéias: Oh Mercy é um triunfo. Quantas mortes e quantas vidas Bob Dylan ainda vai inventar?


(texto de autoria de Ana Maria Bahiana, e publicado originalmente na revista Bizz de janeiro de 1990)

domingo, março 09, 2008

AS FACETAS DE BOB DYLAN (PT. 5)

O CRENTE
Discografia: At Budokan (78); Slow Train Coming (79); Saved (80); Shot of Lore (81)


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A ordem que Dylan encontra é a mais banal possível: em 1980, para espanto de fãs e não-fãs e delícia da imprensa, ele anuncia que acaba de se converter ao protestantismo fundamentalista, uma das formas mais simplistas de fé religiosa cristã que pode existir. Com um único gesto, Dylan não apenas renega todo o seu passado imediato como livre pensador secular mas também toda a sua história familiar como judeu.


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A esterilidade pessoal que se esconde atrás dessa escolha aparentemente estapafúrdia revela-se nos discos deste período - os piores que Dylan conseguiu fazer em toda a sua carreira. Não existe mais o poeta alucinado, o trovador arrogante, o crítico inclemente, apenas um homem sozinho e infeliz, implorando a misericórdia de Deus por pecados reais ou presumidos - o pior deles, sem dúvida, o de ter renegado o próprio talento.

(texto de autoria de Ana Maria Bahiana, e publicado originalmente na revista Bizz de janeiro de 1990)

sábado, março 08, 2008

AS FACETAS DE BOB DYLAN (PT. 4)

O TROVADOR ELÉTRICO REVISTADO
Discografia: Before the Flood (74); Blood on the Tracks (74); Desire (75); Hard Rain (76); Street Legal (78)


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Com uma fúria inigualada desde os tempos do festival de Newport, Dylan e a Band partiram para a estrada em 73. O resultado está captado admirávelmente em Before the Flood, um dos melhores álbuns ao vivo de todos os tempos. Como um grande balanço de sua vida e de sua obra, Dylan revê seu próprio repertório com vigor e espírito crítico, reinterpretando espetacularmente seus próprios cavalos-de-batalha e, assim, construindo a transição entre a sua geração - que se embalava confortavelmente nas diluições mornas do rock pomposo dos 70 - e a geração seguinte - que sonhava a imensa ruptura punk, ainda por vir.


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Como que impulsionado pela energia nervosa dessa tour, Dylan atravessa os últimos anos 70 a bordo de uma espécie de nuvem magnética. Sem a Band, acompanhado por músicos diversos, quase semi-amadores, ele compõe longas e sinistras canções de amor, abandono e desejo, cada vez mais crípticas e cabalísticas, ocasionalmente comentando algum assunto político que, por acaso, atravesse seu campo de visão. É uma produção estranhamente brilhante, essa do Dylan que vê chegar a meia-idade sem ter encontrado ainda resposta alguma - irregular mas intrigante, angulosa. Os cripto-fãs que analisam cada milímetro de suas letras - uma degeneração da dizimada cultura sixties, como os dead heads e os neo-hippies - não chegam a perceber para onde Dylan está rumando. Emocionalmente à deriva, ele, que sempre pregou a ruptura, anseia agora pela ordem no caos. Qualquer ordem serve.

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(texto de autoria de Ana Maria Bahiana, e publicado originalmente na revista Bizz de janeiro de 1990)

sexta-feira, março 07, 2008

AS FACETAS DE BOB DYLAN (PT. 3)

O CAIPIRA ESCLARECIDO
Discografia: John Wesley Harding (68); Nashville Skyline (69); Self Portrait (70); New Morning (70); Pat Garrett and Billy the Kid (73); Planet Waves (74)


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O Dylan que emerge do retiro em Woodstock é, mais uma vez, uma síntese de sua geração - na virada dos trinta anos, casado e pai de família, violentamente confrontado com sua própria mortalidade, ele desacelera, medita, reavalia suas opções. Quando o sereno, semicountry John Wesley Harding é lançado, em 68, parece que Dylan encontrou, enfim, maturidade e serenidade, e está dando um passo adiante num ano ruidoso e explosivo, ano de revolução cultural na China, tumulto estudantil em Paris. Na verdade, Dylan estava apenas ganhando tempo, confessando sua perplexidade diante da quantidade de certezas destruídas que os últimos meses haviam acumulado em sua vida - exatamente como seu público faria durante a nova década, diante de coisas tão desconcertantes quanto a escalada da Guerra do Vietnã, Watergate, drogas pesadas e discoteca.


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Sua primeira reação é voltar atrás, recuperar o fôlego - uma fórmula que, crise após crise, se mostra certeira no pop. John Wesley Harding e Nashville Skyline são discos marcados pela country music, pelo abraçar sem reservas da simplicidade, da rusticidade até. A voz está mais grave, mais doce, a lira está serena: o caipira esclarecido canta a vida e o amor sem pedir desculpas, e flerta com a possibilidade - que depois explorará quase até o delírio - da experiência religiosa como provedora de peso e significado.


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Os outros discos são irregulares - embora a trilha de Pat Garrett oculte um clássico, "Knockin´ on Heaven´s Door" -, Dylan não se apresenta mais ao vivo, brinca de fazer cinema (em Pat Garrett). Sua vida parece ecoar suas canções: "Êi, baby, este será o fim?", ele tinha perguntado, uma vez. Não: novamente, era apenas o início.

(texto de autoria de Ana Maria Bahiana, e publicado originalmente na revista Bizz de janeiro de 1990)

quinta-feira, março 06, 2008

AS FACETAS DE BOB DYLAN (PT. 2)

O TROVADOR ELÉTRICO
Discografia: Highway 61 Revisited (65); Bringing It All Back Home (65); Blonde ou Blonde (66); The Basement Tapes (gravados em 66/67, mas lançados apenas em 75)

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Onde Dylan teria percebido a mudança? No vento, como o personagem de sua própria canção? Os tempos estavam acelerados, pesados. Não apenas formalmente, com a chegada triunfal do imprevisível - uma onda de bandas inglesas que estavam relendo, com grande sucesso, a mesma ancestral tradição popular americana sobre a qual ele mesmo se debruçava - mas em cada um desses monumentais percalços históricos que parecem se acumular, caprichosamente, sobre cada dia dos anos 60: o assassinato de Kennedy, o assassinato de Martin Luther King, a Guerra do Vietnã, a Guerra dos Seis Dias no Oriente Médio, a pílula, o ácido lisérgico, a minissaia, a pop art, Andy Warhol. O que um pobre garoto poderia fazer?
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Em julho de 1965, a platéia do festival de Newport obteve a resposta. Dylan subiu ao palco com uma guitarra elétrica ao pescoço e, acompanhado por uma banda canadense - The Hawks, mais tarde rebatizada The Band, simplesmente -, atacou não as baladas folk que haviam feito sua glória, mas pesadas diatribes impulsionadas a eletricidade e fúria. A voz fanhosa rasgada num grunhido, num rosnar - "How does it feeeel? To be on your oooown..." ele rugia numa canção inédita, "Like a Rolling Stone". Os tempos, e Dylan, haviam definitivamente mudado.
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Num veloz curto-circuito típico da era, a fusão folk rock que Dylan pegara no ar, inspirado por Beatles e Stones, voltava a Beatles e Stones e inspirava, por sua vez, Rubber Soul e Between the Buttons. O documentário Don´t Look Back, de D.A. Pennebaker, captura o flagrante deste novo personagem, o Dylan popstar: arrogante, egoísta, defensivo, trincado, partindo o coração da namorada Joan Baez (que ele trocaria pela futura mulher Sarah Lowndes em 66), agredindo e humilhando a imprensa. O álbum duplo Blonde on Blonde captura o outro lado - a musa elétrica de Dylan em sua melhor fase, cuspindo metáforas e visões sobre o ricochetear funky da Band e convidados.
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Em julho de 66, dias depois de seu 25.º aniversário, um acidente de moto interrompe a até então irresistível decolagem de Dylan desde o dia em que saiu de casa, em 59. Aparentemente esbofeteado pelo destino, Dylan pára, some, recolhe-se a sua casa de Woodstock. Durante dois anos, boatos de todo tipo atravessam o novo clube do qual ele era sócio-fundador e presidente de honra: a novíssima elite rock. Dylan estaria desfigurado, ou drogado, ou louco, ou morto. Nada disso: trancado em Woodstock com a Band, Dylan estava se divertindo numa grande, longa festa íntima, como revelariam, anos depois, os Basement Tapes.

(texto de autoria de Ana Maria Bahiana, e publicado originalmente na revista Bizz de janeiro de 1990)

AS FACETAS DE BOB DYLAN (PT. 1)

O DISCÍPULO DE WOODY (1959-1964)
Discografia: Bob Dylan (61), The Freewheeling Bob Dryan (62), The Times They Are A-Changin´ (64), Another Side of Bob Dylan (64)

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A América era risonha e franca, quase pura, quando o menino Robert Allen Zimmerman inventou o trovador Bob Dylan. Havia subúrbios estalando de novos em torno das cidades, uma TV em cada casa e dois carros em cada garagem, um supermercado - essa incrível e recente invenção do conforto urbano! - em cada esquina e muitos bambolês em todos os armários. Em breve haveria um homem no espaço e um jovem presidente na Casa Branca, falando em justiça social e igualdade racial e namorando Marilyn Monroe escondido - John Kennedy, é claro -, e uma vaga euforia pairava no ar. É certo que existiam coisas como a ameaça nuclear, esta estranha novidade que parecia, a princípio, uma bênção, e agora ninguém estava tão certo assim; e o muro de Berlim e a Guerra Fria, e a CIA tramando sem parar a derrubada de Fidel Castro. Mas dentro das fronteiras da América, uma prosperidade inédita, confortável e segura embalava sonhos de transformação, acordava espíritos aventureiros.

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Robert Allen, filho dos donos de uma próspera loja de móveis e ferragens em Hibbing, Minnesota, achou que era um deles. O seu futuro provável - herdar a loja dos pais, como mandava a boa tradição familiar judia - parecia tedioso. Mais interessante era o futuro provável de um moderno trovador urbano, alguém que continuasse na nova década e na nova cidade a linhagem dos vagabundos poetas dos anos 30. Leadbelly, Woody Guthrie, Blind Lemon Jefferson, esses que ele ouvia em discos surrupiados às lojas dos negros, esses que ele ouvia em obscuros programas da madrugada, e em visitas secretas aos guetos.
Em 1959, Robert Allen saiu de casa com as bênçãos dos pais para estudar na Universidade de Minnesota. Chegou lá com o nome de Bob Dylan e um outro passado - era um vagabundo, descendente de índios Sioux, sua família vinha do Oklahoma. Instantaneamente, ele havia redesenhado seu futuro.

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Não ficou na universidade por muito tempo: um ano depois, já estava em Nova York, tocando violão e gaita nos bares do Village, compondo canções descaradamente parecidas com os talking blues de Woody Guthrie, mas um tanto mais loucas, repletas de visões apocalípticas, uma agilidade política mais feroz, mais adequada aos novos tempos. O Village Voice e o New York Times acharam aquilo muito chique, muito apropriado. John Hammond, um produtor e folclorista repleto de poder na gravadora Columbia, arranjou rapidamente um contrato.

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Em 1961, aos vinte anos de idade, dois anos após ter-se inventado, Bob Dylan era o novo artista mais promissor e badalado dos Estados Unidos. É preciso lembrar que não havia Beatles nem Stones nem "rock" como conhecemos hoje. Havia um imenso vácuo de desejos não realizados, uma geração em busca de sua própria voz nessa era de prosperidade e esperança. Com seus talking blues revisitados, suas baladas de amor e fúria - "Blowin´ in the Wind", "Masters of War", "Don´t Think Twice, It´s Alright" , "The Times They Are A-Changin´" -, seu canto fanhoso, seu olhar de poeta e seus cabelos de maluco, mentiroso mas sagaz - ou seja, misterioso -, Bob Dylan acabara de descobrir essa voz.
(texto de autoria de Ana Maria Bahiana, e publicado originalmente na revista Bizz de janeiro de 1990)

terça-feira, março 04, 2008

DISCOTECA BÁSICA

BOB DYLAN - BLONDE ON BLONDE

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Tente imaginar o seguinte: você tem 25 anos; nos últimos cinco anos de sua vida, você se tornou, primeiro, um campeão dos direitos humanos, herói da política estudantil, trovador querido dos universitários e de todas as colorações da esquerda. Depois, numa velocidade que lhe parece absolutamente alucinante, você se viu no trono do estrelato pop, adorado agora por multidões de jovens. Só alguém foi tão famoso em seu país, os Estados Unidos: Elvis Presley. Mas Presley era um bronco, um ingênuo, uma criatura de seu empresário. E você, não: você sofre de lucidez crônica, muitas vezes paranóica, um lirismo brotando por todos os poros, uma consciência crítica que não o deixa dormir. Você leu, foi ao cinema, gosta de poesia. Mas, hoje, na América ninguém é mais famoso do que você.
Foi nesse contexto que Bob Dylan criou Blonde on Blonde, um álbum duplo vital, obsessivo e transformador, capítulo derradeiro no livro número um de sua biografia. Blonde foi lançado em maio de 66. Em julho, Dylan foi cuspido fora de sua moto Triumph 500, nas cercanias de Woodstock e, com várias costelas quebradas, suspeita de fratura de crânio e lesão cerebral, viu-se confinado a uma cama de hospital por três meses, seguidos de mais um ano de afastamento da vida artística - começava aí o livro dois de sua vida. Mas voltemos atrás.
Voltemos ao jovem Dylan popstar, recém-casado com Sarah Lowndes - artista plástica, poetisa, adepta do zen-budismo -, consumidor contumaz de anfetaminas, excursionando sem cessar de uma costa à outra da América e, nos intervalos, ainda achando tempo para sessões de gravação nos estúdios da Columbia, em Nashville. O jovem Dylan que, no ano anterior, chocara o mundo careta e bem-pensante do festival folk de Newport, subindo ao palco com uma guitarra elétrica ao pescoço, e que, na seqüência, colocara no topo das paradas de sucesso uma longa diatribe sobre os rigores da vida errante, "Like a Rolling Stone".
Todos e cada um desses elementos, características de um momento rico mas tenso de sua vida, estão na música mercurial de Blonde on Blonde, um álbum duplo mas não muito - o lado D é inteirinho ocupado por "Sad Eyed Lady of the Lowlands", uma pungente balada de adoração a Sarah onde Dylan atinge o auge de sua capacidade poética de expressar amor.
"Sad Eyed" acaba sendo um dos raros momentos de serenidade num álbum que respira a energia nervosa da anfetamina. Outro instante de doçura é também uma balada de amor - "Visions of Johanna"; no caso, um adeus sentido mas terno a um grande ex-amor, Joan Baez. Muitos vêem tanto em "Sad Eyed" quanto em "Johanna" as primeiras manifestações de um sentimento realmente religioso em Dylan, a busca de uma dimensão metafísica, espiritual, para a existência.
A maioria dos músicos de Blonde... é de feras de Nashville, do country & western, portanto. Para afiar o gume cortante, ele acrescenta o grande guitarrista de blues, Al Kooper, e seus amigos canadenses e rockers, Levon Helm e Robbie Robertson, do grupo que viria a ser The Band. Órgão, guitarra e harmônica formam o coração elétrico da sonoridade e o disco todo é puxado nos agudos, um som nervoso, quase diáfano. Nos textos, atrás de uma bateria de metáforas, Dylan despeja rancores, paranóias e um insistente pedido de trégua. Ele tem raiva dos hipócritas em "Leopard-Skin Pillbox Hat", das amantes mentirosas em "Just Like a Woman", das situações irremediáveis em "Memphis Blues Again". Não há solução, diz a voz mercurial, ou melhor, a solução é "todo mundo ficar chapado" (ou "ser apedrejado", os dois sentidos de "get stoned", refrão crucial da faixa de abertura, "Rainy Day Women 12 & 35").

(texto de autoria de Ana Maria Bahiana, e publicado originalmente na revista Bizz de agosto de 1986)

sexta-feira, janeiro 18, 2008

MUSIC NEWS

:: Bob Dylan confirma datas no Brasil. Cantor vem a São Paulo nos dias 5 e 6 de março. Já o Rio, recebe Dylan em 8 de março, de acordo com site oficial. Detalhes aqui.
:: Rolling Stones assinam contrato com a Universal. Banda pode deixar definitivamente a EMI, sua gravadora há 16 anos. O novo álbum será a trilha sonora do filme mais recente de Martin Scorsese. Mais aqui.
:: Lily Allen perde o seu bebê. Porta-voz da cantora de 22 anos confirmou informação. Segundo o jornal “The Sun”, aborto teria acontecido quando ela voltava de viagem. Clique aqui para maiores detalhes.

domingo, maio 13, 2007

PACOTÃO DE CDS

Aproveitando uma folguinha no bolso, há algumas semanas fiz duas encomendas de CDs, uma no Submarino e outra nas Americanas, totalizando nove discos. Os preços estavam legais, usei um vale-desconto no Submarino e aproveitei uma promoção de frete grátis e um desconto extra (cortesia da carteira de estudante da Jovem Pan, apesar de não possuí-la; como vivíamos sem a internet mesmo?!) nas Americanas. Segue a lista de compras:

BOB DYLAN – THE ESSENCIAL

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Coletânea dupla de um dos maiores poetas do rock. Confesso que demorou um pouco para o Dylan cair no meu gosto, curtia uma ou outra música esporádica, mas não o suficiente para me aprofundar mais. Ficava sempre naquela, “um dia eu compro um disco desse cara”, e finalmente chegou a hora. O disco 1, que cobre o período de 1963 a 1967, é o meu favorito, trazendo as faixas mais low fi, basicamente apenas voz, violão e gaita. No caso de Bob Dylan, menos é mais. Assim não deixei de me perguntar: será que, se eu estivesse naquele primeiro show onde ele empunhou uma guitarra elétrica, eu também o chamaria de Judas?

SOUNDGARDEN – BADMOTORFINGER

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Quem costuma freqüentar esse blog já deve ter percebido que as bandas de Seattle têm um lugar especial no meu universo pop particular. Badmotorfinger era um dos poucos discos que tinha em vinil, mas ainda não tinha conseguido comprar a versão em CD. Ele foi relançado recentemente e não perdi a chance. O disco não é tão bom quanto seu sucessor, Superunknown, em minha opinião uma das obras-primas da década de 90, mas já mostra todo o potencial dos caras. Além das conhecidas “Outshined”, “Rust Cage” e “Jesus Christ Pose”, o álbum contém outras ótimas faixas como “Somewhere” e “Room A Thousand Years Wide”. Bem melhor que a outra banda do Chris Cornell, o finado Audioslave.

QUEENS OF THE STONE AGE – LULLABIES TO PARALYZE

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Existem poucas bandas hoje em dia em que você pode confiar e comprar um CD cegamente. O Foo Fighters é uma delas. O Queens Of The Stone Age é outra. Lullabies To Paralyze é o quarto disco dos caras, e o primeiro sem o baixista porra-louca Nick Oliveri, e é tão bom quanto os anteriores. A seqüência que vai da faixa 1 até a 8 é perfeita. Depois cai um pouco a qualidade, mas só um pouquinho mesmo, até porque uma das melhores do disco, “Long Slow Goodbye”, é a penúltima do álbum. Mas uma vez Josh Homme chama seus amigos, entre eles Mark Lanegan e Shirley Manson, para mais uma aula de rock ‘n’ roll.

THE CLASH – LONDON CALLING

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Um dos discos clássicos do rock que faltava em minha coleção. Faltava. Nesse álbum, originalmente duplo, o Clash em sua melhor forma mostra que o punk vai bem mais além dos três acordes, colocando na receita pitadas de reggae, ska, rockabilly, numa mistura bem longe de ser intragável. London Calling mantém o bom nível em todas suas 19 faixas, mas algumas acabam se destacando, como a faixa título, “The Guns Of Brixton”, “Death Or Glory”, “I’m Not Down”, “Train In Vain”, entre outras. Ah, e tem a capa, tão clássica como o conteúdo musical.

BLACK CROWES – THE SOUTHERN HARMONY AND MUSICAL COMPANION

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Desde meados da década de 90 essa banda está presente na minha lista de compras, mas só agora adquiri um disco do grupo liderado pelos irmãos Robinson. E para começar bem, nada melhor que The Southern Harmony And Musical Companion, considerado o melhor da banda e presente em diversas listas de melhores discos da década passada. Todo mundo deve conhecer a excelente “Remedy”, que rendeu um clipe com alta rotação nos bons tempos de MTV, mas ainda temos ótimas músicas como “Sting Me” e “Sometimes Salvation”. Para quem curte aquele estilo de rock setentista, é um prato cheio.


WOLFMOTHER – WOLFMOTHER

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Álbum de estréia dessa banda australiana que foi uma das revelações de 2006. Assim como o Black Crowes, o som do Wolfmother é calcado nos anos 70, mas especificamente naquele estilo do Led Zeppelin e do Black Sabbath, credenciais mais que suficientes para correr atrás desse CD. Sons como “Woman”, “Dimension” e “Tales” conquistam de imediato aqueles fãs de bons riffs de guitarra. Ideal para ouvir no volume máximo para deixar seu vizinho louco da vida, principalmente se ele tem o mau gosto como o meu. A capa, no entanto, é bem feiazinha.

GUNS N ROSES – GREATEST HITS

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Coletânea básica do Guns N’ Roses, trazendo músicas dos seus quatro álbuns e do EP de covers The Spaguetti Incident, mais a versão de “Sympathy For The Devil”, que saiu na trilha sonora de Entrevista com o Vampiro. A seqüência inicial, com “Welcome To The Jungle”, Sweet Child O’ Mine”, “Patience” e “Paradise City”, já vale o preço do disco. Mas ainda temos “Civil War”, “Live And Let Die” e “Since I Don’t Have You”, entre outras. Para mim, que não sou o maior fã da banda do mundo, longe disso, é mais que suficiente.

THE KILLS – NO WOW

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Esse CD estava custando inacreditáveis R$ 5,99 no site das Americanas. Claro que com esse precinho camarada eu não poderia deixar passar essa. The Kills é um duo formado por Allison Mosshart (ou VV para os íntimos) e por Jamie Hince, fazem um rock bem cru e já passaram por aqui há quase dois anos. O forte da banda é mesmo sua vocalista VV. Sabem a Patti Smith? Então, se ela fosse bonita seria como a VV (confira fotos da moça nesse antigo post). A garota transpira rock n’ roll em cada poro de sua pele. Ah, sim, o disco... É bem legal, com destaque para a faixa “Rodeo Town”.

CANSEI DE SER SEXY – CANSEI DE SER SEXY

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CSS é a banda brasileira mais badalada lá fora, tanto que conseguiram um contrato com a Sub Pop, a mesma gravadora que revelou o Nirvana. Não se via brasileiros tão hypados assim desde o Sepultura na década passada. No Brasil o álbum de estréia do grupo saiu pela Trama, e o preço também tava bem camarada (R$ 12,49), e não resisti. O som é bem básico, ideal para festas ou ouvir enquanto você dá aquele trato no seu quarto (no meu caso, tentar achar novas combinações para guardar a coleção de gibis). E a própria banda não se leva a sério, ponto para eles.

sábado, abril 21, 2007

VÁRIAS COISAS

Em pleno mês onde o S&D completa seu segundo aniversário, é uma pena ele estar meio entregue às moscas virtuais, mas estive ocupado devido ao concurso do TRE (prestado no último domingo) e também aproveitei e levei o computador para a assistência técnica na sexta-feira 13, já que ele precisava urgentemente de uma formatação para voltar a funcionar minimamente bem, além de finalmente instalar um gravador de CD/DVD, e graças a um probleminha na reinstalação do modem (minha velha sorte sempre dá um jeito de atacar), só hoje pude recebê-lo.
Depois de alguns meses de correria estudando basicamente durante todo o dia (e todos os dias), ainda estou colocando minha vidinha besta nos trilhos. Essencialmente isso quer dizer pôr em dia uma pilha de revistas e gibis e, pelamordedeus!, assistir a algum filme (nem lembro mais quando vi o último). Também está na lista de afazeres reorganizar minha coleção de gibis, que ganhou um novo montante aguardando seu recolhimento para os arquivos de terceira idade (uma das coisinhas chatas que aprendi estudando Arquivologia, matéria exigida para a prova; fundamentalmente os documentos que não tem mais utilidade imediata, mas que tem valor histórico e/ou probatório, vão para o arquivo de terceira idade, ou permanente), dar um jeito na bagunça do baú (não é o do Silvio Santos) e realizar tarefas prosaicas como virar o colchão (só lembro quando já estou deitado) e dar uma voltinha de bicicleta para tirar o mofo da pele (se bem que com essa chuva recente nem tentei).

Antes de ir embora, umas coisinhas:
-O programa do Jools Holland não é exibido só na HBO Plus. Toda sexta-feira, às 23 horas, o Film & Arts também o exibe. Vale, vale, vale!
-Vi gente reclamando por a Fox tirar do ar Prison Break para exibir a 6ª temporada de 24 Horas. Como no ano passado, Prison deve voltar ao final de mais um dia para Jack Bauer. Eu achei uma bênção, pois não suportava mais tantos clichês, reviravoltas, eventos inverossímeis e um baita desrespeito com a inteligência do espectador. Férias mais que merecidas. E a 1ª temporada foi tão legal...
-A nova fase da Bizz, que estreou com o Miranda na capa, veio bem a calhar. Nova diagramação, novas seções e textos deliciosos. O Arnaldo Branco já se tornou um dos meus escribas favoritos. Ele é o mesmo autor de matérias recentes (e já antológicas) com Raimundos e Ivete Sangalo (argh!), e agora nos presenteia com sua hilariante descrição dos bastidores do programa Ídolos.
-Tenho ouvido muito Bob Dylan por aqui. Confesso que demorou um pouco para cair a ficha e perceber a qualidade do seu trabalho, então estou recuperando o tempo perdido. Comprei uma coletânea dupla, junto a outros CDs (dedicarei em breve um post para falar de cada um deles), e músicas como “Don’t Think Twice, It’s All Right”, “It Ain’t Me” e “It’s All Over Now, Baby Blue” não me saem da cabeça.
-Yuri (é assim que se escreve?), meu velho, você é sempre bem vindo por aqui.
-A partir da próxima semana as coisas se normalizam por aqui. Prometo.
-Pô, legal esse Word 2007, heim?

domingo, abril 24, 2005

FRASES

“Eu canto tão bem quanto Caruso”
Bob Dylan, no histórico documentário Don’t Look Back, filmado em 1965.